FILHO DE PEIXÃO...TUBARÃO SERÁ ?

Certo é que parte deste meu texto será uma crônica, relato de algo que recentemente aconteceu no entorno dos meus olhos, e a outra parte será uma proposta a um ensaio do pensamento para todos que são pais ou são futuros candidatos ao grande desafio.

Nós pais sabemos que filho algum vem com manual de instrução (aliás, nós pais também não!) e educar filhos num mundo cujas mudanças de valores ocorrem a toque de caixa, decerto que é uma tarefa desafiadora.

Porém, nada mais evidente nesta questão de educação dos filhos o fato de que exemplos valem por todas as palavras deste mundo, porém, doutro lado, há tantas correntes de marés que agem na contramão do que julgamos o melhor caminho para nossos filhos que por mais que exemplifiquemos, temos mais é que rezar. E muito.

E foi assim que dia desses eu me encontrava num elevedor duma famosa rede de supermercados aqui de São Paulo, aonde o andar da loja fica acima de duas garagens de subsolos, quando um episódio me chamou a atenção.

Na saída das compras, ao me dirigir ao segundo subsolo, apertei o botão do elevador e uma criança de mais ou menos seis anos, que lá dentro acabara de sacar os sapatos à revelia da mãe, me disse assim:"primeiro eu!". E logo após apertou o botão do Primeiro subsolo.

Bem, claro que também lhe dei a vez mas, não satisfeita com a birra que fazia àquela mãe, ela me perguntou num tom voluntarioso: "por que você apertou o botão antes de mim? E por que você está de salto?"- "Tira o sapato também!".

Claro que a ideia era boa! A de tirar o sapato. Não discuto. Há regras que são pedras aos nossos pés.

Porém, antes que eu resolvesse me livrar dos saltos para que chegássemos aos subsolos pelas escadas, o elevador que pareceu não ter gostado da educação e nem do comando do garoto, emperrou e apagou: Blackout? Defeito mecânico?

A mãe, que até então estava num mutismo passivo impressionante resolveu se manisfestar ao concluir em voz alta: "aquele boçal lá de baixo é o culpado, foi ele que "provavelmente" acionou o botão antes da porta fechar e prendeu o elevador!", referindo-se ao garajista de um dos subsolos.

Assim que a porta voltou a funcionar saímos os três rumo aos nossos subsolos e de partida e a criança me gritou:" ô tia, cê viu, este garagista aqui é um bundão, foi ele que prendeu o elevador!"

"Vamos filhinho, vamos embora daqui"-disse-lhe a mãe num tom carinhoso.

Tenho me perguntado muito sobre o que teria acontecido para que chegássemos na atual e flagrante falta de respeito que reina hoje pelo mundo a nortear grande parte das relações entre as pessoas.

Já nem falo em hierarquia de valores, (esqueçam essa bobagem!) mas sim na hierarquia de respeito. Acabou. Isso também não existe mais.

Entre pais, filhos, amigos, professores, alunos, vizinhos, colegas de trabalho, nas ruas, no trânsito, nos shoppings, enfim , em todas as calçadas da vida...o desrespeito é total.Vale apenas a lei do mais forte, a lei do PEIXE MAIOR.

Se levarmos em consideração que somos nós, os peixes, que criamos os nossos caros peixinhos, decerto que não é difícil deduzir, inclusive no exemplo relatado, que somos os coresponsáveis pelos cardumes de crianças voluntariosas que nadam por aí, futuros tubarões predadores de todos os melhores mares.

Futuros adultos egocentrados e que tudo farão para "fazer valer" sua vontade, custe o que lhes custar, inclusive aos outros, ainda que o mundo inteiro não seja tão bundão quanto lhes pareça.

Aliás, os bundões e boçais, aqueles que ainda prezam pelo respeito em sociedade, esses sim, me parecem bem escassos pelo mundo.

Que pena! Prefiro os bundões convictos de alguns valores.

Enfim, como diz o ditado, "Filho de peixe peixinho é!" -é algo comportalmente comprovado por aí...

É verdade. Só um detalhe: tem muito peixinho desavisado que pode cair na própria rede deste imenso mar que nem sempre está para os tubarões...já vi muitos deles morrerem afogados.