OS DOIS PÃEZINHOS
À medida que envelhecemos, ficamos mais sensíveis. Particularmente, essa tem sido uma constatação que tenho feito em minha vida. No entanto, sei que o mesmo não ocorre com todas as pessoas. Há, sem dúvida, aqueles que, pelas mais diversas razões, vão ficando cada vez mais secos, insensíveis, amargos, etc. Graças a Deus, este não é o meu caso. Pelo contrário, enquanto o tempo avança e deixa suas marcas em meu corpo, meu coração, na mesma medida, vai amolecendo, pois o choro me vem fácil. Choro por qualquer coisa.
Sei que a psicologia tem resposta para tudo isso. Mas, já não importa. Na altura da minha vida, o que importa, verdadeiramente, é o sentimento, qualquer que seja a razão. Na verdade, eu me emociono facilmente, sobretudo quando testemunho ações humanas altruístas, coisas que já não estão em voga. Fico emocionado com pequenos gestos de gentileza, de solidariedade, de demonstração de amor ao próximo, desde que neles perceba a pureza de suas intenções.
Quem não me conhece, certamente, tem outra impressão de mim. Sou tímido, fechado, carrancudo. Pareço estar sempre bravo ou preocupado com alguma coisa ou com alguém. Infelizmente, ou não, tenho o coração nos olhos ou na cara, como dizemos aqui no Nordeste. Sou daqueles cuja expressão facial denuncia as aflições da alma. Não consigo dissimular. Sou transparente. Talvez, por isso, use a carranca como proteção, numa inútil tentativa de evitar que através dos olhos me invadam a alma. É assim que me sinto quando olham pra mim. Sinto-me desnudo diante das pessoas. Penso que se fosse mais espontâneo, talvez conseguisse esconder os meus sentimentos e não revelá-los pelas janelas da face.
Ah, percebo que me desviei do motivo pelo qual peguei a “caneta” (força do hábito) para escrever essas linhas. Para não me tornar enfadonho, quem me motivou a escrever foi a minha netinha Isabeli. Já falei dela por aqui. Nos últimos anos, ela tem sido a razão dos meus melhores sentimentos. É que ela chegou em minha vida no momento que me despedia da idade madura para tornar-me um idoso. Talvez tenha sido a razão primeira. Mas, o importante é que ela veio para sacudir-me as estruturas e mudar todas as regras que apliquei na educação de meus filhos. Mas, vamos aos fatos.
Ontem, ao final da tarde, hora costumeira de levá-la pra casa de sua mãe (os pais são separados), minha mulher ofereceu-lhe um pedaço de pão que acabara de chegar da padaria, ainda quentinho. Ela saboreou o pedaço de pão com grande prazer, dizendo: ô vovó, posso levar um pão pra mim comer em casa com a mamãe? - Claro! A avó, então, pegou um saquinho e pôs lá dois pãezinhos para ela levar pra casa. Eu, que a tudo presenciara, fiquei tomado de emoção com a cena. As lágrimas inundaram meus olhos quando a vi sair com um saquinho na mão, toda feliz. Naquele momento, aqueles pãezinhos eram o seu maior tesouro. Mais uma vez percebi que ser feliz não custa muito. Bastam uma netinha com seus dois pãezinhos.
Luis Gentil
Março/2011.