AMOR DE VERDADE!?!?

Eu estava conversando, num grupo conhecido, quando ouvi esta frase: “eu amo de verdade”. Olhei para a moça que a havia pronunciado e fiquei me perguntando se existe uma maneira de amar de mentira...

Enquanto eu tentava reordenar meus pensamentos, buscando uma ordem lógica de refletir sobre a frase, eu só pude entender, ao pé da letra, sobre o que seria amar de mentira, se fosse, esse amor, daqueles em que as pessoas se aproximam das outras com o intuito de se apropriar de bens materiais daqueles a quem eles se achegam. Ou, no mínimo, conquistar dividendos profissionais com essa mentira, em estando junto de pessoas conhecidas publicamente.

Entretanto, se formos analisar a frase colocando-a dessa forma: amar com mentiras, até que ela existe e, dependendo das circunstâncias, a mentira dita no momento certo, pode ser benéfica para a relação, desde que ela não seja uma constância para quem a diz. Às vezes, numa relação, omitir a verdade, para preservar o bem-querer, pode ser uma saída emergencial para algo que, se dito, magoe ou até cause um estrago maior na relação. Mas, logo após passar a tempestade, é hora de chamar o amor para contar-lhe a verdade, explicando o porquê da mentira naquela ocasião, e pedindo compreensão e prometendo não voltar a repetir a dose.

Uma mentira clássica dentro de um relacionamento, principalmente, quando a pergunta é feita pelas mulheres – querendo a resposta “sincera” dos homens –, é aquela em que a pergunta, invariavelmente, é de cunho anatômico. A mulher sempre pergunta: estou bem com essa maquiagem? Como eu fiquei dentro deste vestido? Meu bem, você acha que eu estou gorda? É claro que o homem jamais vai derruir a autoestima da amada, mesmo que ela não esteja, digamos, dentro dos padrões de beleza; que aquela maquiagem não tenha lhe caído bem ou que o vestido que ela está usando não combine com a compleição do seu corpo. É preciso, nesta hora, discernimento para que a resposta não se transforme num problema sério de rejeição afetiva.

Contudo, se essas duas frases forem analisadas na sua essência, elas não terão nenhuma credibilidade. Aliás, elas não se encaixam no contexto, pois o amor é amor e pronto. Isso significa dizer que não existe amor de mentira, nem amor com mentira... E, sim, amor, sem adjetivos ou complementos.

Mas, e se quisermos analisar a frase “amor de verdade? Ou seja, tirando a mentira e colocando, em seu lugar, a verdade? Será que aí nós teríamos uma diferenciação no contexto reflexivo?

Vamos começar a analisar pela palavra verdade. Verdade, segundo o Dicionário Aurélio, é um substantivo feminino que pode ser a mesma coisa que: conformidade com o real; exatidão, realidade; franqueza, sinceridade; coisa verdadeira ou certa; princípio certo; representação fiel de alguma coisa da natureza; caráter, cunho.

Ora, se verdade é, num de seus sinônimos, conformidade com que o real se apresenta e, portanto, se o amor é colocado nesta condição, mesmo que seja abstrato – agindo sobre e sob o domínio de quem ele adentrou, logicamente, um ser humano –, tal fato existe e se ele existe a verdade é contingente e, portanto, pode um dia se tornar o oposto. Agora, se verdade é razão, agindo de acordo com a representação fiel de alguma coisa da natureza, neste caso, o amor se faz necessário à condição humana, por ser ele um sentimento que é motivo de busca incessante para se viver em paz; deste modo, ele jamais poderá ser questionado, e nunca terá, como oposto seu, a mentira.

Por isso, quando a frase “eu amo de verdade” foi pronunciada, eu parei para pensar. E assim como são feitos os sinônimos da palavra verdade, amar de verdade é, em verdade, algo que não podemos analisar fielmente o seu real significado, pois em verdade pode ser dito para expressar algo para as pessoas em sua volta, causando um bem-estar, um efeito positivo, quando, em verdade, a conotação dada possa ser totalmente diferente da pronunciada.

De modo que, melhor que ouvir superlativos sobre o amor, é amar sem precisar estar, a todo o momento, reafirmando esse amor. Amor se cuida sabendo irrigá-lo diariamente, abastecendo-o com doses de carinhos e afetos, vigiando-o para que as ervas daninhas não adentrem o seu jardim e contaminem a sua pureza. Para amar não se faz necessário inventar fórmulas ou criar medidas para tê-lo entre nós. Amar é, simplesmente, estar de bem com a vida e com os seus...




Obs. Imagem da internet




 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 27/03/2011
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T2873479
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