Zeca Bem falando das abelhas cassunungas
O Zeca Bem me contou que um conhecido seu morava na Vila Carioca e resolveu mudar para o interior. O Zeca Bem não entendia essa decisão do rapaz ir para o interior, afinal ele o Zeca Bem mudou para a capital de São Paulo para tentar uma nova vida, isto porque no interior as coisas não iam bem, agora um jovem nascido na capital resolver ir para o interior.
Alugar casa no interior era muito fácil, comparando com a capital de São Paulo, bastava uma apresentação de um parente ao proprietário da casa e pronto, já tinha onde morar. Meses depois o rapaz lembrou-se do Zeca Bem, o que ele falou tinha fundamento, no interior as coisas são mais difíceis.
O rapaz trabalhou na área de construção civil, servente de pedreiro. Foi juntando um dinheiro e comprou uma carroça “Rio Claro” com uma égua já de cara branca, velha, mas boa para o trabalho que ia fazer.
O interessante é que o rapaz nunca lidou com carroça, enfim com animais, mas seja o que Deus quiser, nas horas de folga vou fazer pequenos carretos, disse ele. Na época tinha muitos carroceiros que viviam desse tipo de serviço, tinha até um ponto na estação ferroviária, com bebedouro e tudo. Certo dia o rapaz cismou de montar na égua, a égua andou ele caiu de cara no chão, para evitar o sangramento colocou uma tantada de pó de café já coado, sacudiu a poeira, ainda bem que ninguém viu essa cena.
O tempo passou, ele estudou a noite, conseguiu melhorar seus conhecimentos, prestou concurso publico, e foi trabalhar numa ETA.
Nesta ETA, tinha uma razoável reserva florestal, que protegia o manancial, as minas de água que formavam um pequeno lago. Enfim dizia ele, era isso que eu queria, aqui é um paraíso ecológico. A questão foi que o rapaz resolveu andar pela mata adentro. Portando um “foião” termo usado pelos caboclos, que na verdade tem o nome de folhão, ferramenta para cortar cana, entrou na mata, queria ver de perto onde eram as nascentes, e foi fazendo uma picada.
Corta aqui, corta lá, e bem próximo de um barranco lascou o folhão num ramo de cipó, que em seguida sobe um bando de insetos, que vai picando por todo seu corpo. Disse que o rapaz gritou por socorro, mas quem iria ouvi-lo dentro da mata. O rapaz saiu correndo, largando a ferramenta por ali, e também os óculos, nessa corrida desesperada tropeçou numa raiz de um pé de olho de cabra, caindo de cara no chão, e o seu pára-brisa sumiu, aliás, os óculos.
Em poucos minutos estava o rapaz com o rosto inchado pelas picadas dos insetos, foi até um bar próximo da ETA, tentar conseguir um pouco de álcool para passar no rosto e no corpo. Mas o dono do bar disse que não tinha álcool, ali não era venda e sim um bar, mas se servir tem pinga, não é a mesma coisa, mas quebra o galho.
O dono do bar encheu um copo, bem lavrado de pinga e deu para o rapaz, que primeiro tomou uma golada, que chegou a meio copo, e o resto passou no rosto e também no corpo. O dono do bar deu uma gargalhada, e falou para o rapaz, você arrumou uma boa desculpa pra beber. Não disse ele, veja o meu rosto como está. De fato disse o dono do bar, a sua cara está inchada.
Após relatar o caso ao dono do bar, o proprietário disse você foi picado pelas abelhas caçunungas, abelhas essas que vivem a beira de barrancos.
Dois anos depois ele retorna a capital, e vai até a casa do Zeca Bem contar as novidades. E ai seu Zeca tudo bem com o senhor. Zeca Bem responde tudo bem, e você já acostumou no interior. Sim, nos primeiros meses até pensei em voltar para a capital, mas aos poucos me acostumei e hoje retorno aqui na capital só pra fazer uma visita aos meus pais e também ao senhor, que é velho amigo da minha família.
Quando cheguei ao interior os meus parentes me chamavam de “jacu da cidade”, que também achavam estranho ir vir morar no interior. Seu Zeca, tirando as malditas abelhas cassunungas, conheci muitas plantas que não conhecia.
Estou trabalhando num local, pequena reserva e lá tem vários pés de frutas que nunca ouvi falar. É mesmo disse o Zeca Bem, afinal que frutas são essas.
Além de ter várias espécies de arvores, tais como: Pau - Brasil – ipê amarelo – ipê roxo – castanheira – genipapo – araçá – pitanga – jaca – ameixa – pindaíba e outras mais.