Carnaval em Três Ranchos

Nunca fui muito de pular o carnaval. Talvez porque prefiro aproveitar o feriado para pular na cama – sozinho mesmo ou acompanhado, melhor ainda, claro.

Quando eu era criança, fui algumas vezes com meus primos à matinê do carnaval no clube Nipo em Rio Preto. Também já fui a alguns sambódromos da vida assistir aos desfiles. E à transmissão pela TV, não vi mais do que alguns minutos. A isso se resumiam minhas experiências carnavalescas.

Três Ranchos é uma cidade goiana, distante 20 km de Catalão, em que a população não chega a 3 mil habitantes. Seu carnaval é conhecido como o melhor do estado de Goiás, recebendo turistas de grandes cidades como Brasília, Goiânia e até São Paulo. Sendo assim, fiquei curioso...

Eu já havia ido lá para uma atividade da Gakkai e para um passeio com amigos, mas nesses dois anos que moro em Catalão, ainda não conhecia esse famoso carnaval de Três Ranchos. Apesar dos dias chuvosos de março, numa tarde o céu deu trégua e fui lá com alguns amigos.

Uma experiência interessante... Não que eu nunca tenha visto coisas loucas nesta vida... mas de fato essa foi diferente.

À luz do sol e a céu aberto, fazia-se todo tipo de estripulias... Beber ao extremo e dançar todos os ritmos possíveis ao mesmo tempo era a parte mais leve da festa.

Carros com equipamentos de som ultra-potentes e ligados na capacidade máxima, mais pareciam boates itinerantes. Havia lugares em que os carros sintonizavam a mesma música. Seria para amplificar ainda mais a potência? Não pode ser... Devia ser para ensurdecer ainda mais os desacostumados como eu, isso sim. Víamos também vários carros próximos, cada um tocando uma música, com seu ritmo e público próprios. Creio que o importante era o ruído mesmo, porque não dava pra distinguir o que estava tocando não.

Esses veículos sonoros, estacionados ou em desfile pela avenida, eventualmente levavam pessoas também, já que o equipamento de som acabava ocupando mais do que todo o seu interior. Alguns passageiros escapavam pela janela, sem parar de dançar... ou será que escapavam justamente porque dançavam? Vai saber... Outros iam de pé, pulando o mais animadamente que conseguiam, sob o capô (amassado) do carro.

É... tem muitas coisas que vi e não entendi. Mas percebi que lá não era um lugar para entender, mas simplesmente para ver as coisas e as pessoas. Porque a paisagem humana compensava as loucuras. Roupas minúsculas, transparentes, desnecessárias até. Muita gente achava que estava na praia, com seus trajes de banho. “Trajes de banho!”, huuuumm... entendi agora, porque geralmente se toma banho nu mesmo... Completamente nu, não vi não. Mas só de cueca tinha vários. Cueca mesmo, não sunga.

Via-se todo tipo de comportamento, saracutiamento, passo de dança, conversas, cantorias, gritos em coro, manifestações... Muitas delas fruto do “além” mesmo: aquilo que está muito além de um “consumo saudável”. Vi uns três sendo algemados pela polícia e levados em camburão. Ou será que era alguma encenação de pessoas “fantasiadas” de policiais? Vai saber...

Parênteses: acho que quando minha mãe ler este texto, vai pensar: “meu filho, que periiiiiiigo um lugar desses, você não tem medo?!” E já me adianto: “não, mãe, não fiquei com medo; era de dia, eu estava com amigos, bebi apenas duas latinhas de cerveja eeeeeeeee... já sou bem grandinho, né????”

Apesar das loucuras, gostei muito da festa. Ou será que gostei justamente pelas loucuras? Vai saber... A gente já precisa viver muito lúcido no dia-a-dia, então de vez em quando sair da rotina faz bem.

Como ouvi, “as pessoas no carnaval ficam tão loucas que parecem que estão vivendo o último dia das suas vidas”. É por isso então que existe uma grande população que nasce no mês de novembro, porque o carnaval geralmente é em fevereiro, coincidentemente “nove meses” antes.

Só sei que se eu soubesse que é o meu último dia de vida, eu não passaria desse jeito não...

(Catalão, 12/03/2011)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 26/03/2011
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