A vida começa aos setenta

Tenho uma amiga que comemorou setenta anos de idade na maior alegria, dançando frevo com guarda-sol e tudo, batucando maracatu e dando adeuzinho aos problemas de geriatria. Mulher mais saudável do mundo, ela comanda uma empresa de turismo, viaja o Brasil todo com grupos da chamada melhor idade, fazendo e desfazendo graças à capacidade intelectual, experiência acumulada e vontade de viver.

Os jovens que me desculpem, mas forçoso é dizer que os veteranos é que estão com a bola toda. Não obstante as discriminações no mercado de trabalho em relação à idade, pesquisas indicam que pessoas maduras exercem com mais eficiência as tarefas mais importantes. Por isso é que a Constituição Federal ordena que, para o cargo de Senador, Ministro do Supremo Tribunal Federal e Presidente da República, só podem se candidatar pessoas com mais de trinta e cinco anos de idade. Os aviadores mais experientes são os comandantes dos jatos de passageiros. Tem que ter experiência de mais de dez anos de voo. Portanto, quanto mais velho, mais hábil.

Eu acho que a Presidenta Dilma Roussef foi uma pessoa altamente patriota, valente, decidida e corajosa no passado. Com vinte anos enfrentou a ditadura militar com arma na mão. Só que naquela época ela não estava preparada para comandar o avião chamado Brasil. Era uma mocinha inexperiente. Hoje, depois de passar por muitas provas na vida, acumulou uma visão mais geral de tudo e indiscutivelmente está preparada para o alto cargo.

Mas, por causa do preconceito, tem muita gente idosa que fica até com vergonha de sua condição. Não é assim com minha amiga de setenta anos. Ela tem orgulho em declarar sua idade. “Sou septuagénaria”, exclama com altivez e muita dignidade pessoal. Outro amigo meu pinta os cabelos e nega a verdadeira idade. Diz que em um país de tão forte preconceito etário, melhor é esconder o passar do tempo. Essas pessoas têm grande piedade de si mesmos. Decepcionados por terem vivido tanto, apenas tolerados pela família, sem uma história de vida que os evidenciem todo o tempo, são apenas anciãos sem futuro. Os anos para esses são um fardo incômodo. Ainda pior os que envelhecem sem ter o que comer, ganhando uma miséria da Previdência. O velhinho que apanha papel na rua, esse não pensa na idade. O que quer é sobreviver, não tem tempo para lamentar a idade provecta.

Mas é lamentável que um jovem/velho em plena forma aos sessenta/setenta não possa concorrer com os jovens no mercado de trabalho. São relegados ao esquecimento, talentos mal aproveitados, pessoas que se tornam melancólicas e depressivas porque têm consciência do seu potencial, mas vêem sua velhice como uma maldição.

Feliz é minha comadre setentona, mulher que pegou suas quedas e fracassos de uma vida toda, amassou seus sofrimentos e desilusões e fez um bolo para comemorar a satisfação de viver, para saborear o prazer de continuar vivendo com ventura. É bom viver tão longamente se a gente tem um propósito, e o dela é ser feliz até a última gota.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 26/03/2011
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