REDESCOBRINDO TÂNIA MENESES, UMA GRANDE POETISA , por André Bessa

*** ANDRÉ BESSA É MEU CONTERRÂNEO E CONTEMPORÂNEO, RADICADO NA SUÍÇA. ESTOU AINDA DE TAL FORMA EMOCIONADA E SEM CONSEGUIR ENCONTRAR PALAVRAS PARA ME EXPRESSAR DIANTE DA DEMONSTRAÇÃO DE GENEROSIDADE E DE CARINHO DESSE SERGIPANO ILUSTRE. DEIXO, ENTÃO, PRA VOCÊ, ANDRÉ, MUITOS ABRAÇOS E BEIJOS CHEIOS DE SERGIPANIDADE.

Por um desses admiráveis acasos que nos acontecem, travei contato – o mais correto seria dizer recontato – com uma colega de letras que participou, uma época, comigo e outros jovens, de memoráveis saraus literários que tiveram lugar na Aracaju do início dos anos 60. Trata-se da mestra e grande poetisa Tânia Meneses. Naqueles verdes anos lá, estávamos ainda nos primórdios da nossa adolescência, e fazíamos parte da Academia Sergipana de Letras de Jovens Escritores, um pequeno grêmio literário criado e coordenado pela Profa. Carmelita Fontes, voltado apenas para os chamados "jovens talentos de uma geração". As reuniões, hebdomadárias, davam-se de forma alternada nas casas de cada um dos membros. Eram à noite e, não raro, escrutadas pelo olhar, entre curioso e vigilante, da mãe de um de nós. E que era também a responsável pelos comes-e-bebes, estes nunca indo além de bôlos, de salgadinhos e, sobretudo, de guaraná! pois éramos ainda "viniciuzinhos". Cada qual preparava sempre um texto durante a semana para ser lido nessas reuniões. Ainda recordo que, quando chegava a minha vez de ler, eu, tímido como sempre fui, não sabia onde por as mãos. Enrubescia como um tomate, gaguejava, a voz não saía. Era um drama. Mas, é justamente desta época, quando eu tinha entre 12 e 13 anos, que datam os meus primeiros sonetos. Vergonhosos, hoje é que vejo.

Mas, voltando ao principal, falava eu da minha alegria de rever Tânia Meneses depois de mais ou menos quarenta e sete anos sem vê-la. E de ter notícias daqueles colegas do nosso antigo grêmio literário, a nossa "Academiazinha". Deixando minha cidade natal com a idade de 15 anos, as esporádicas vêzes que nela retornei foram pontuais e de curta duração nos anos 70. Perdi, pois, o contato e o traço de cada um deles. Mas a memória daquele nosso convívio, irmanados que éramos pelo amor às letras, ficou indelevelmente gravada no melhor do meu coração. E rever Tânia e seus escritos, mesmo que interpostos por uma fina tela de cristais de quartzo, e separados por aquele mesmo oceano que nos viu nascer, foi uma inefável experiência, e que guardarei certamente até o fim. Interessante observar que o pendor para as letras se faz desde cedo. Daquele grupo que era o nosso, saíram grandes poetas e, certamente, mesmo literatos de fim de semana. A estes, eu devoto o maior respeito – e não que seja apenas pelo fato de me alinhar entre eles – pois sei que as letras mais puras são sempre aquelas mais descomprometidas.

A minha conterrânea Tânia Meneses escreve com a tarimba de quem é íntima das palavras desde sempre, essa intimidade advinda do exercício diário de expressão escrita, de leituras, de ensaios, da observação e da reflexão, elementos essenciais a um verdadeiro literato. Mergulhei (e continuo mergulhando ainda) no seu acervo poético. Um verdadeiro florilégio, ao qual me dou prazerosamente – e praticamente – todos os dias. Não saberia sintetizar a bela poesia de Tânia Meneses. Confessional. Inteligente. Informal. Altamente expressiva. Deixarei a tarefa aos críticos, um dia. No entanto, sinto que sua poesia transmite uma espécie de sugestão descritiva pois, mesmo sem querer, intencionalmente, ela descreve. É como se as palavras já contivessem todos os elementos que geraram o clima que a inspirou, o momento mágico, sem todavia, que nelas esses estejam descritos. É a transcendência poética em seu estado mais puro. Para felicidade maior de todos os seus leitores, Tânia é uma poetisa prolífica, o que nos assegura que teremos sempre o que dela ler até o fim dos nossos dias.

Esse poema de Tânia Meneses, que escolhi para dar uma amostra do seu talento, eu o tomei emprestado de seu "blog aposentado" (como eu o chamo), e é um maravilhoso exemplo do que falei dessa sugestão descritiva de sua poesia. Chama-se "A BOLSA NA PAREDE" e é dedicado ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Ao lê-lo (e relê-lo), algo sempre me transporta a algum lugar dos anos 70, a um quarto despojado, a uma parede cortada de sol, a mochilas e incensos, a calor e cheiros no ar de uma outra época, e eu sinto como se se abrisse dentro de mim, uma porta que sempre esteve aberta, mas que eu não me dei conta que estava.

A BOLSA NA PAREDE

(Dedicado a Carlos Drummond de Andrade)

Olho a bolsa pendurada na parede

dentro dela um pedaço de mim

um pedaço de você

um endereço

uma escova de cabelos

um batom que não uso

e um poema de Drummond que abuso

Aracaju, 197?

Obrigado, Tânia, pela dádiva de sua sublime poesia.

Um grande beijo, atemporal e fraterno, deste seu conterrâneo.

André

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BLOG DO ANDRÉ:

http://andrelitteris.blogspot.com/

taniameneses
Enviado por taniameneses em 26/03/2011
Reeditado em 26/03/2011
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