Pensei Que Não Viria
Toma banho, arruma o cabelo, depois arruma o cabelo de novo... E lá se vão duas horas na frente do espelho. Perfuma-se, vai à porta, olha mil vezes para o telefone – sem exagero – ele já deveria ter chegado, ou, pelo menos ligado avisando que não viria. Pega a bolsa, confere se está tudo direitinho. Está. Mas a ansiedade é tamanha que resolve olhar de novo. Não se sabe ao certo se é por precaução ou se é simplesmente um passatempo pra ver se esquecia o que estava a esperar. Senta no sofá, liga a TV, fica pensando na possibilidade dele estar com outra, ou esquecido o compromisso, ou então... Não! Nada disso! Talvez ele a odeia, mas nunca encontrou um meio para declarar tão fato. Ela chora, corre para o espelho, retoca a maquiagem.
Lembrou dos dois na festa de despedida do colégio, do primeiro beijo, do acampamento de férias na 8ª série, e dos cartões de aniversário, dia dos namorados, natal. Lembrou dos domingos no parque. Ela quis pegar o telefone, ligar pra ele e pedir que a esquecesse – se ainda não tivesse feito isso – pensava ela. Desesperada, ia gritar, mas antes que o grito chegasse à garganta, a campainha tocou. Finalmente era ele.
– Olá amor!
– Oi Edgar – já desanimada – pensei que não viria.
– O quê? Cheguei às oito horas, como combinamos!
De fato, a paixão tem essa mania de fazer com que o tempo em que passamos longe das pessoas que amamos seja definitivamente longo. E a espera pelo momento de se ver seja de ansiedade incômoda, e que coisas bobas passem por nossas cabeças, e o medo de que tudo acabe é tão grande que faz a gente perder a noção de tudo e de nós mesmos.