A Poesia é Nossa
Dia desses, ainda nas primeiras horas do amanhecer, que também coincidia com meu aniversário, data esta que marca meu rápido envelhecer, enquanto múltiplos me atarefavam, outros me davam afazeres, também me adoeciam com dores de cabeça, preocupações, cansaços, uma amiga me vinha nas mãos, retirado de uma bolsa, me dar pensamentos. Maria Luiza me presenteou, sem embrulho, pois do embrulho ela faz literatura, com uma imensa obra de Manoel de Barros. A imensidão dos escritos não estava apenas no seu tamanho, e sim em sua profundidade. Não dava pé! Seu acerto foi em cheio. Não me presenteou apenas com um livro, me deu vida. Me nutriu de esperança! Com o “Poesia Completa”, livro este que pincelo todos os dias, conheci o expoente de uma poesia concreta, sólida, sem arranhaduras. Nele conheci Cuiabá, Corumbá e Campo Grande. Me confortei quando soube que não estou só, mergulhando diariamente nas poesias “uns homens estão silenciosos”, “no fim de um lugar” e “uma didática da invenção”. Me inspirei a poetizar pelos becos que ando, a fazer rimas dos lodos, a enxergar lustre na solidão. Passei a cantarolar sonatas, a suspirar engenhos, a comer farofa.
Seus escritos devem ressurgir dos seus cabelos brancos, brotando feito mudas de jasmim. A vida seria mais bela e serena se fossem regidas pela escrita de Manoel de Barros. A poesia é nossa!
“Que hei de fazer se de repente a manhã voltar?
Que hei de fazer?
— Dormir, talvez chorar”.