ÉTICA... A COISA TÁ FEIA!

Falar sobre ética é exercitar oralmente a receita da vida civilizada.

Pensar sobre ética é fazer reflexão sobre a interação entre o egoísmo das sobrevivências e o altruísmo das interdependências.

Viver sob sua égide é contar com a proteção confortadora de algo construído ao longo da civilização e que vem sendo aperfeiçoado por todos os que vêem com mais clareza o traçado de sua arquitetura.

Viver com ética, portanto, seria permear as ações com os valores resultantes dessas construções sem um só segundo de desvio, descontando-se as acidentais falhas inerentes à condição humana.

“O respeito a...”, ou “a despeito de...”, poderiam ser, e muitas vezes são, expressões antagônicas que caracterizam a presença ou ausência de ética em uma ação quando estas se referem a decisões cujos valores éticos são o ponto forte, o núcleo, o objeto ou a essência.

As normas, políticas, pactos, acordos e tratados, via de regra têm a ética como fio condutor do equilíbrio de influências emitidas pelos epicentros circundantes que representam os interesses dos integrantes que os compõem, embora não se trate apenas da harmonização de seus anseios, mas principalmente, do respeito aos que estão fora sem oportunidade de emitir opinião sobre o que lhes conviria quando as conseqüências dos atos desses grupos lhes afetassem.

A simplicidade sintetiza grande parte do espírito ético. Por ela passam o despojamento construtivo e o desprezo a vaidades estéreis. Nela o poder e a competência persuasiva se entrelaçam na disseminação da justiça sem serem percebidos como força coercitiva, mas como motivação coletiva de boa vontade.

Em algumas profissões, o corporativismo é o calcanhar de Aquiles da ética. O pacto mudo travestido de ética interna é um vírus que infecta tantos quantos se exponham sob o manto do grupo impedindo que a ética externa, universal e saneadora possa agir, ensejando a maior das frustrações: a impotência.

Sua eterna companheira, a moral é, sem dúvida, sua grande charada. É o fio de navalha que pavimenta seu caminho. É uma espécie de composição binária intermitente que ora lhe indica os trajetos ora chega a exigir de si o maior dos sacrifícios: a força. Para distinguir-se dela, a ética, que na verdade, deve sempre estar contida na moral e que, vez por outra, passa ao largo de seus valores em nome de algum interesse que dela se utiliza confundindo aos potenciais cidadãos, têm sempre que ser convocada por parte deles a fim de restabelecer a ordem social, dando-se então a dinâmica de seu aperfeiçoamento e a atualização de sua estrutura.