Juca do carboreto - Vila Carioca, anos 50
Trabalhava na Casa de Avicultura Anchieta, Rua Silva Bueno, quase esquina com a Rua Almirante Delamare. Comércio bem variado: além de comercializar aves, pássaros e congêneres, vendiam também mudas de várias espécies frutíferas. Nesses tempos era permitido vender todo tipo de pássaros e aves brasileiras, até macaco-prego era vendido na Casa de Avicultura Anchieta.
Apareceu por lá o Sr. Juca, mas todos da Vila Carioca conheciam pelo apelido de "Juca do carbureto", apelido adquirido em razão de comercializar o referido produto. Produto este usado na construção de casas de alvenaria, que misturando com água e areia dá uma boa liga na massa para assentar tijolos e também no reboco das paredes. Enfim, hoje em dia temos o cal, derivado do carbureto.
Dentre outras coisas, comprou também dois pés de frutas, tangerina - morcote - tangerina - pokan, lá pelas bandas do Rio Grande do Sul, dizem bergamota.
Quando ele me viu circulando pela loja logo me identificou perguntando, você é filho do "Dito Carpinteiro"? Respondi que sim. Disse ele, acabei de comprar dois pés de fruta, não posso levá-los, te dou uma caixinha você leva em casa pra mim. Tudo bem, respondi. Ele sabia que eu morava na Vila Carioca. Já botou a mão no bolso e deu-me uma quantia, quem sabe seria uns vinte pratas, pois difícil é recordar que tipo era a nossa moeda na época, isto diante de tanta troca de nomes, "Pataca" eu sei que não era, quem sabe, seria Mirreis, Cruzeiro?
Hora de almoçar e lá vou eu carregando dois balaios, feitos de cipó e com tiras finas de bambu. Saí da loja, Rua Silva Bueno, Almirante Delamare, passei próximo do campo do clube varzeano Pátria F. C., fui seguindo, do lado acima tínhamos o "Frigorífico Cerati", caminhei por uma trilha que ligava com a Rua Pilões, Rua Álvaro do Vale, e finalmente Rua Albino de Moraes.
Naquela época distante, década de 1950, contêiner eram balaios, também chamados de jacás, espécie de cesto alongado feito de taquara ou cipó. Especificamente para o transporte de carne, peixe, queijo, milho, banana, abóbora, rapadura e outros alimentos ou objetos, utilizava-se o jacá. Interessante registrar que o jacá (ou balaio, como queira) também era unidade de medida para o milho: tantos jacás era medida equivalente a um carro; um carro correspondia a tantas sacas...
Carregando um balaio em cada braço fui cansando, e quando entrava na Rua Álvaro do Vale escapa um deles e cai no chão. Agachei, dei uma ajeitada no balaio colocando a terra desprendida e continuei a jornada.
Mais uns quarteirões estava eu na Rua Albino de Moraes, finalmente podia descansar e almoçar sossegado, isso depois de 1:30 horas.
Após "engasgar o gato", almoçar, de novo pego os dois balaios, segui pela Avenida Carioca, Rua Auriverde, esquina e final também da Rua Colorado, enfim encontrei a chácara do Sr. "Juca do carbureto", que fazia fundos com a Avenida Presidente Wilson, próximo também do campo do Salitre F. C. e dos enormes Armazéns Gerais, estrada de ferro Santos-Jundiaí.
Bati palmas, vi na frente de sua chácara carbureto pra todo lado. No caminho eu matutava, meu avô tem o sobrenome Tangerino, o que tem a ver com a fruta tangerina? Seria o feminino de Tangerino? Essa indagação permaneceu na minha cabeça por muito tempo.
Ouvia muitas histórias sobre os imigrantes de origem judaica – portuguesa, que fugiram de Portugal por causa da famosa "inquisição" e que ao chegar ao desconhecido território das Américas, que recebeu nome de Brasil, trocaram seus nomes judaicos por: Pereira; Oliveira; Tangerina; Nogueira; Lima; Carvalho etc., tudo relacionado com nomes de árvores? Enfim, muitos trocaram outros não.
No continente africano tem lá uma cidade portuária por nome de "Tanger", antiga "Tingis Romana", mais adiante tem também "Orange". Enfim, acabei descobrindo um Manoel Pereira Tangerino de Alentejo, Portugal, que foi vereador na proto-história de Moji Mirim, outro José Pereira Tangerino, vereador na cidade de Cascavel, atual Aguaí-SP, Manoel Pereira Tangerino, vereador na cidade de Campinas-SP.
O balaio é feito de cipó e tiras finas de bambu. Ambos, cipó e bambu, são colhidos em momentos propícios da lua, para não "bichar" o bambu e não "lascar" o cipó. Colhem-nos, portanto, uma vez por mês e na enchente da lua ou no plenilúnio. E há uma reza ou invocação para tanto. Os cipós são tratados com mais outros ritos, cuidadosamente, para evitar confundi-los com cobras. Depois o cipó é trazido, torcido verde, e posto a secar; o bambu é lascado, afinado, e posto a amadurecer mais para que possa arcar uniformemente. Em dias certos, começam o trabalho de tecer o balaio, uma espiral logarítmica de cipó entrecruzando os bambus, que depois formarão os lados; e eles não sabem o que é logaritmo, mas é só medir para ver. Depois, as varetas são erguidas e é tecido de taquara e bojo do balaio, que fica reta.
Naquela época distante, contêiner eram balaios, também chamados de jacás, espécie de cesto alongado, feito de taquara ou cipó. Especificamente para o transporte de carne, peixe, queijo, milho, banana, abóbora, rapadura e outros alimentos, ou objetos, utilizava-se o jacá. Interessante registrar que o jacá (ou balaio, como queira) também era unidade de medida para o milho: tantos jacás era medida equivalente a um carro; um carro correspondia a tantas sacas.