Conta de português
Conta de português
Venho fazer uma homenagem ao belo e culto povo irmão: os portugueses. São muitas vezes mal compreendidos por terem uma lógica clara e direta, sem metáforas nem desvios. Nós, filhos deles, somos rebeldes (os filhos sempre são) e deturpamos essa lógica direta com atalhos e falsos caminhos, malandragens e sacanagens mesmo. Esses brasileiros são piadistas, não entendem o óbvio, é chato!
Citarei alguns exemplos. Em Portugal, você concorda com algo e diz “Pois sim!”. “Senhor”, diz o garçom, “posso servir o vinho?” E você diz “Pois não!”, aí o danado do garçom dá um tranco, volta atrás e para de servir! Claro, o certo é dizer “Pois sim, sirva!”, a lógica direta é clara, o SIM é um SIM, o NÃO é um NÃO! Um amigo leu em Lisboa uma placa: “Não pise na grama”, e abaixo, em letras menores: “Se não souber LER pergunte ao guarda”. Óbvio de novo! Quem, além do guarda, vai te orientar? Outra: “Estamos abertos na segunda-feira, das 9 horas às 17 horas; na terça-feira, das 9 horas às 17 horas; na quarta-feira, das 9 horas às 17 horas; na quinta-feira, das 9 horas às 17 horas; na sexta-feira das 9 horas às 17 horas; no sábado, das 9 horas às 17 horas; no domingo, das 9 horas às 17 horas”. Certo, perfeito, claro, puro. Quem garante que não possa haver um novo dia na semana? Um decreto presidencial? “A partir de hoje será instituído o domingo extra, que virá ampliar o descanso de nosso árduo trabalhador lusitano, passando a semana a ter 8 dias, sendo obrigatório o descanso no domingo extra”– e ouve-se um salva de palmas! Isso é que é presidente!!!! Não existe “Abrimos TODOS os dias”, entendem? Com a implantação do domingo extra, essa loja será multada!
Eu, pessoalmente, na engenharia, SEMPRE fiz a “conta de português” – fácil, direta, objetiva. De preferência de trás prá frente, vendo o fim e olhando o começo, desconfiando, desconfiando muito, e – very important – me achando meio burro. O “meio burro” é um burro de orelhas em pé, atento, brigador, mas burro. Ele pode errar e não se pune nunca, pois seu lado burro perdoa o que o inteligente errou e quando o inteligente acerta o burro corre para o abraço, vai comemorar, beber, rir e brincar com grossas gargalhadas que só os burros têm! Você vai resolvendo um problema e fica feliz! Pimba, resolvi! Legal, tudo certo! E, feliz, vai prá casa todo contente com o dever cumprido. No dia seguinte, teu chefe descobre o TEU erro e te crucifica! MERDA!!!!!! Eu, na minha “conta de português”, teria checado os números básicos, comparando com outros números, com outros feitos e, desconfiado de mim mesmo, não entregaria meu relatório sem as contas da padaria feitas. O chofer de táxi sabe o que entra e o que sai, colocando no bolso direito o positivo e no esquerdo, o negativo. É só calcular o saldo no fim do dia, uma conta corrente simples, orçamento perfeito!
Façam, meus amigos, suas contas e admitam o erro, vivendo feliz com nossos dois lados humanos: o inteligente e o burro. Ambos são fortes e amigos, Dom Quixote e Sancho Pança, e vamos lutar contra os moinhos da vida!
Roberto Solano