HINO DA MESA DE BAR

Em "SENTIMENTAL EU FICO" Renato Teixeira escreveu o hino definitivo da mesa de bar. Pra completar, a música foi gravada por Elis Regina no disco "Elis", ainda com a participação do marido César Camargo Mariano nos arranjos e piano. No mesmo disco, outra música de Teixeira, "Romaria", foi muito tocada nas rádios e se tornou em sucesso nacional.

"Romaria" foi tão executada que acabou por ofuscar as outras músicas do disco. Eu diria até que esse verdadeiro "credo-apostólico-boêmio" que é a música "Sentimental" acabou caindo na obscuridade, mas é uma música que ainda surpreende pela sua sabedoria das noites, cantada com ironia fina, mas também com saudosismo pelos "grandes projetos tolos e combinados que perecem com a luz da manhã", ou " quando sento na mesa de bar eu sou um lobo cansado e carente de cerveja e de velhos amigos". Toda vez que ouço esse verso "carente de cerveja" me dá uma secura imediata na garganta e beber alguma coisa se faz necessário!

Outro destaque também para esta parte do credo dos "Alcoólatras Com Um Pingo De Juízo" na qual a música diz que mesa de bar é pra encontrar-se com a cachaça, mas, TAMBÉM, com os AMIGOS. É lugar de diversão e de loucura, mas também solo sagrado, ou melhor, 'toalha de mesa sagrada' de grandes papos e de se construir grandes amizades, como diria o Poetinha (com maíuscula mesmo) Vinícius: "nunca fiz um amigo numa leiteria!"

A música é genial em todas as linhas e tiradas. Ficaria difícil e longo discutir uma por uma, mas certamente Renato Teixeira tinha conhecimento de causa quando a escreveu, ou então ele é mais gênio do que eu pensava! Ele sempre vai ser conhecido por "Romaria", "Amanheceu, peguei a viola" e outras, mas para mim "Sentimental Eu Fico" vai ser sempre a sua obra-prima!


Sentimental Eu Fico - Renato Teixeira

Sentimental eu fico
Quando pouso na mesa de um bar
Eu sou um lobo cansado carente
De cerveja e velhos amigos

Na costura da minha vida mais um ponto
No arremate do sorriso mais um nó
Aqui pra nós cantar não tá pra peixe
Tem coisa transformando a água em pó

E apesar de estar no bar caçando amores
Eu nego tudo e invento explicações
Amigo velho amar não me compete
Eu quero é destilar as emoções

Sentimental eu fico . . .

E os projetos todos tolos combinados
Perecerão nas margens da manhã
Uma tontura solta na cabeça
Um olho em Deus e outro com satã

E quando o sol raiar desentendido
Eu vou ferir a vista no amanhã
E olharei para quem vai pro trabalho
Com os olhos feito os olhos de uma rã.
R Leite
Enviado por R Leite em 24/03/2011
Reeditado em 10/04/2011
Código do texto: T2867244
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