AS FANTÁSTICAS VIAGENS II – O TREM
              (Projeto Minhas Histórias)
 
Hoje estive observando intrigada, a quantidade absurda de carretas e caminhões transportando cargas pesadas através das rodovias. Pus-me a analisar e cheguei à conclusão de que esse tipo de transporte poderia muito bem ser feito através das ferrovias. Dirão que os custos de restauração de trilhos e estações serão imensos e inviáveis, mas aposto que as despesas com recuperação das rodovias, que já não suportam os excessos de cargas e com os constantes acidentes, fariam valer cada centavo gasto em trilhos. Por que não o trem?
Viajar de trem é algo mágico! Passam árvores ligeiras, passam rios, açudes, lagoas enormes, bois, casas, cercas e passam nuvens. Assim é a impressão causada pela velocidade do trem. É como a vida. Costumamos dizer que a vida passa por nós, mas nós é que passamos por ela.
Sempre preferi as viagens diurnas, eram mais interessantes. Mas vamos continuando “aquela viagem fantástica”. Quando chegávamos a Lagoa Redonda, éramos recebidos com imenso carinho na casa de Tia Palmira, onde nos refazíamos da longa jornada no carro -de –boi e nos preparávamos para seguir adiante. Corríamos para a estação do trem. Era uma grande aventura. O Chefe da Estação trocando informações em Código Morse para localizar a máquina, enviando e recebendo telegramas, o movimento na plataforma de embarque, a ansiedade para entrar no trem, tudo era uma festa! Tínhamos duas opções: o Mochila, um trem lento que poderia se chamar Cochila e o Rápido, que como no nome, era bem ligeiro. Daí seguíamos para Alagoinhas e outras vezes para Salvador, passando pelas Estações de Entre Rios, Sabino Vieira, Coti, Capianga e Sauipe.
O transporte ferroviário era um grande movimentador das pequenas cidades e lugarejos que abrigavam as famosas Estações de Trem. Com a “queda dos trilhos”, muitas delas quase desapareceram como Lagoa Redonda que era um lugar bastante animado. O vai e vem de passageiros e a afluência de pessoas e mercadorias ditavam o ritmo do desenvolvimento do comércio local. Hoje é um lugarejo fantasma. Serve apenas de “hotel”, onde quem pensa em progredir, estudando e/ou trabalhando só volta para dormir. A marinete substituiu a máquina e a Maria-fumaça. Que saudade!
Em cidades maiores como Alagoinhas, as ferrovias ainda foram utilizadas por mais tempo. Em meados dos anos 60, eu morava na casa de Tia Nitinha, onde estudei o curso ginasial e magistério. Era uma bela casa, rodeada por um florido jardim, que a minha tia fazia questão de cuidar pessoalmente. Ao lado esquerdo da casa, passavam os trilhos que levavam os trens às cidades de Aramari, Serrinha e outras. Todos os dias, às seis da manhã, a Maria-Fumaça passava com o sino a badalar insistentemente, com o seu famoso “café com pão, café com pão, manteiga não,” soltando toda aquela fuligem resultante da queima de lenha que a mantinha ativa. Estava levando operários à cidade de Aramari. Às cinco da tarde, ela os trazia de volta. Eu costumava voltar do colégio pulando dormentes, ou me equilibrando nos trilhos, até que a trepidação ou um apito me alertava para a proximidade do trem. Caminhar sobre trilhos e dormentes ajuda a pensar!
 
Mas isso já é assunto para outra história!
 
Fátima Almeida
21/03/11
 
Nota:
 
Dormentes =      Cada uma das peças de madeira, de metal ou de cimento armado, colocadas no solo, perpendicularmente à via férrea, e em cima das quais são fixados os trilhos.


Fátima Almeida
Enviado por Fátima Almeida em 23/03/2011
Código do texto: T2866812
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