O Maricão
- Não é por nada, Diasepâneo, esse menino é fresco.
Primeiro vamos à cena do encontro entre partes. Diasepâneo é um pai solteiro e binubo. Rita a dona do comentário havia sido amante de seu Diasepâneo durante os longos anos de seus dois casamentos. Numa tarde de sol sufocante Rita inventou uma viagem á Goiás e partiu. Diasepâneo comeu o pão que a viuvez amassou nas mãos da amante desaparecida. Descobriu que era um ninguém sem ela. Rita. Tempos mais tarde deu de cara com a sumida na padaria do Abreu. A mesma saborosa mulata com alma de deus e corpo do inferno, dançando por baixo das roupas sumárias. Um achado.
Ela mirou o fedelho com desprezo. Sempre desejou ter filho com Diasepânio. Nunca lhe veio sequer um de cunho acidental. Agora ele tinha esse filho único e filho assim tem excessivas manhas.
- Esse menino é marica.
Diasepâneio pediu normalmente o baguete respondendo alto: Marica mesmo, dos bons. Está namorando o menino do Eusclépio, vão para a escola de mãos dadas. Cuido eles namorando na sala lá de casa. O filho do Eusclépio é gavião, eu cuido do que é meu. Tudo tem sua hora certa.
O povo olha, repara, vê coisas na televisão. Gente agressiva, intolerante. Rústica das antigas. Mas como isto Diasepânio! Você foi logo ter filho marica sendo um tremendo garanhão! Exclamou Rita chamando atenção das pessoas na padaria. O nervosismo fermentava ainda mais no cheiro de pão do local. Um homem ficou tão nervoso diante da revelação pública daquele pai repleto de conformidade, sem repulsa, sem inquietações nas escolhas do filho; que esmagou o patê de galinha. Inconscientemente. Vidrados ficaram diante da conversa insólita, mas real. Rita desejava apenas criar uma chance para voltar com Diasepâneo. Sabia que ele comprava o inveterado baguete sempre naquele horário de pique. O menino afrescalhado se batia nos objetos de confeitaria dentro da padaria e emitia ais chorosos, para receber do pai o mais obsoleto reparo, o consolo com voz de capitão. O pai desabafava: espero logo ver você crescido. Virar logo um grande homem, querendo dizer um grande maricão adulto. Ele ria, as pessoas ficavam zonzas, alegres e outras perdidas. Teve um áspero que chegou a conversar com a dona do estabalecimento verificando se não era caso de polícia. A dona replicou chamando o tipo à discrição, poderia ser ele mesmo condenado por discriminação, que tomasse cuidado. Pensou duas vezes e compreendeu que a sua homofobia acabava por criar dentro dele um criminoso. O que para ele era um delito no próximo, nele se fazia crime. Passava de reparo moral a crime. Preferia o crime, tivesse filho assim, matava.
Por sorte o marica encontrou alguns colegas e puseram-se a conversar sobre viver a vida inteira juntos, enquanto Rita lambia lascivamente o sorvete de creme para atrair novamente o antigo amante. Conseguiu marcar um encontro fatídico.
Alegria de homem quando encontra mulher completa é profunda, expectante, feita de entusiasmo, tremendo entusiasmo que alterou algumas placas das corroídas coronárias de Diasepânio. Rita indo ao encontro do amante, acabou no velório. Diasepânio estava morto, estaqueado. Boqueou, baqueou. O marica estava sozinho no mundo, exceto por pedido peticionado pelo Juiz Alvarenga Peixoto dando guarda do menino a Ritinha. Presumiu que, dois pontos, “já que estava tentando provar que vivera relacionamento estável com ele durante seus dois casamentos oficiais, devia ficar com alguma responsabilidade ligada a ele”.
Maricão cresceu, estudou, tornou-se homem versado em leis, graças a Rita que passou a viver com Madelen. A holandesa que reclamava: “... que os europeus são motivos de liberdade erótica para os brasileiros, porém os nórdicos era bem melhores” e vivia confusa no psicanalista. Foi o psicanalista dela quem alcançou Rita no assunto quando receberam o menino como herança.