Conversa complicada
Eu estava sentada na mureta do meu prédio apreciando a brincadeira das crianças. Hora de almoço, começaram a ir embora, pois uma mãe chama, outra, ídem e foi indo até que o que sobrou veio para perto de mim "puxar prosa". Acho que o almoço lá é tarde.
- "A senhora mora aqui"?
- "Sim, e você"?
- "Estou passeando na casa da minha avó. Moro com meu pai e minha mãe. Não este pai desta avó. Outro pai".
Não precisei falar mais nada. O resto da conversa foi um monólogo.
- "Eu gosto de vir aqui porque minha mãe trabalha e eu fico sozinho com minha irmã que é muito pequena. Essa irmã não é filha desse pai daqui. É do outro pai que tem um outro filho que brinca às vezes comigo, mas não mora na minha casa porque tem outra mãe. Este pai daqui também tem um filho pequeno que a mãe não trabalha. Tenho seis avós. No Natal ganho presente de todos, é bom".
Quantos neurônios essas crianças têm que desenvolver para não se perderem em meio a tantos avós e tantos meio irmãos. Sou de tempos bem mais simples.
Desculpem-me as repetições de palavras, mas é assim que ele falava. Essa repetição é a força do texto dele.
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