Aos animais que passaram pelas nossas vidas...

Certo dia, encontrei os restos fúnebres de um gatinho enterrado em meu quintal. Fiquei um bom tempo a contemplar aqueles ossos tão frágeis e já tão deteriorados pela ação do tempo. Desde então, o pequeno animal não saiu mais dos meus pensamentos. Fiquei a imaginar que eu nunca poderei saber como era aquele ser pequenino, frágil e indefeso que ali jazia. Não era possível saber como era a sua pelagem, se era um pelo curto e macio ou longo e sedoso, ou ainda as cores que o compunham e ainda mais a cor dos seus olhos, que nos felinos, são tão lindos e marcantes. Não era possível saber quantos anos de vida ele pôde desfrutar, quanto tempo gastou em brincadeiras, caçadas e namoros no telhado. Nem a causa da morte eu poderia determinar, se ele chegou a sofrer ou não, se foi vítima de algum ato de crueldade humana.

Um corpo que estava ali, tão perto de mim, habitando o mesmo espaço físico, e do qual eu nunca poderei saber absolutamente nada. Histórias que eu nunca farei ideia que aquela criaturinha possa ter participado.

Alguém poderia me dizer que gatos existem em quantidade imensa, não discordo, mas aquele gato eu não conheci e todas as suas aventuras me são ignoradas. Algo insignificante encontrar uma carcaça no quintal, mas que me fez refletir sobre a vida. Bem assim é a vida, repleta de surpresas e fatos do cotidiano que parecem tão banais, mas que num futuro podem se tornar representativos de um momento único e nos transmitir ensinamentos dos mais significativos.

Quantos pequenos animais passaram pela nossa vida, alguns nos pertenceram como animais domésticos, companheiros de boa parte da vida e outros apenas observamos, e encontramos no dia-a-dia, em qualquer lugar, a qualquer hora?

Existe um texto muito bonito, de autoria da excelente Cecília Meireles, que se chama “Um cão, apenas”, em que a escritora nos conta a experiência de uma moça diante de um cão doente que aparece em sua frente, ela nada faz apenas contemplar aquela criatura indefesa e é na contemplação que ela filosofa a respeito de quantos seres passaram pela nossa vida e nada fizemos. Esse texto, eu o tenho num livro de 7ª série e desde que o li nunca o esqueci.

Sempre acreditei que os animais são como uma extensão de nós próprios, seres humanos. Tanto que, quando alguém me diz que um animalzinho não sente nada, me deixa entristecida, por que o que dizer daquela alegria contagiante que um cachorro possui ao ver o seu dono, representada pelo abanar da cauda, ou o gato carinhoso, que se enrosca nas pernas do seu dono, ou ainda o lindo trinado de um pássaro e a conversa de um papagaio para nos encantar? Mesmo a mansuetude de um jabuti e o silêncio de um peixinho podem nos ensinar lições para uma vida.

Fico profundamente tocada ao ver pessoas se empenhando por essas criaturas tão frágeis e por muitos consideradas como “inferiores”, como no trabalho voluntário realizado por um grupo de visionários em prol de resgatar animais, protegê-los e ampará-los dos maus tratos, ou o simples ato de encontrar uma criatura abandonada e lhe dar uma oportunidade para que possa existir com dignidade.

Falamos tanto de valores e direitos humanos, mas e os direitos dos animais? Por que julgá-los como inferiores? Apenas porque nos julgamos como racionais e dominamos tudo o que nos cerca? Então se temos tamanho poder, enquanto criaturas “superiores”, é nosso dever proteger aos mais fracos, e que nos dão tanto.

Quantas vezes em momentos de tristeza, um animalzinho não voltou os olhos carinhosos para o dono, como que para dizer em silêncio: “Eu estou aqui, você não está sozinho!”? Quantas vezes em momentos de alegria nos entregamos às brincadeiras com os nossos animais, em quantos momentos eles nos alegraram com suas atitudes simples e amistosas? Várias e sempre estarão aí para isso, para nos transmitir vida.

Tantos animais passaram pelas nossas vidas, eu mesma tive vários e me lembro carinhosamente deles, cada um deixou uma marca dentro da minha alma, e muitos outros passarão, cabe apenas a nós mesmos aprender essa lição de amor e companheirismo que eles nos dão.

Fiquei triste pelo gatinho, porque eu nunca saberei como foi desfrutar da sua companhia e sinto saudades de todos aqueles seres que passaram pela minha vida, e espero que assim como eu aprendi a ter essa consciência do valor desses animais, outras pessoas também percebam o mesmo e que quando virem um animalzinho olhando para si, com carinho, que possam retribuir, seja num afago, seja num alimento, num pequeno ato de atenção, porque ternura gera ternura, e isso é o que precisamos aprender com os seres chamados de “inferiores”.

Ana Claudia Brida
Enviado por Ana Claudia Brida em 23/03/2011
Código do texto: T2866365
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