A CAVEIRA DO DIABO
Durante minha infância e adolescência vivi no interior de Minas Gerais, a maior parte na roça. Meus pais eram católicos praticantes, Sempre os acompanhava nas missas, novenas e rezas ocasionais. Na região onde morávamos a prática religiosa era muito forte. Lembro-me que o dia de Santa Cruz “3 de maio” todas as cruzes eram enfeitadas com papéis coloridos. Em todas as casas tinham uma cruz e era bonito de se ver. Nas grandes fazendas tinham enormes cruzeiros. Muitos tinham no topo um galo, esculturado em madeira, também de madeira a toalha, que Santa Verônica enxugou o rosto de Jesus.
Como as paróquias ficavam muito distantes, os grandes, médios e pequenos fazendeiros construíam igrejas e capelas. Era um costume para ficar mais fácil aos fiéis praticarem seus atos de fé. Geralmente a celebração das santas missas era uma vez por mês.
Fiz esse introito, para contar uma história que minha mãe me contava. Ela era uma pessoa bem humorada, fazia a gente rir até no conceito do sagrado, sem ofender os dogmas da igreja. Contava ela que, havia uma grande igreja nas terras de um fazendeiro, nos dias de missa, ela ficava lotada. Um padre, que assistia a região, tinha no altar uma caveira humana. Era o símbolo da insignificância da nossa vida material. No auge de sua verve clerical balançava a caveira e dizia: “De quem será esta caveira?”. “Será de seu avô?”. “De sua mãe?”. “Será de um ricaço?”. “Será de um pobretão?”. Em todas as missas a caveira era o tema da homilia.
Aconteceu que na véspera de uma missa, um sujeito peralta colocou dentro da caveira uma caixa de marimbondo tatu, uma espécie dos mais bravos e venenosos. Chegou o domingo e o padre começou a balançar a caveira com evolutivas catarses, repetindo as perguntas de sempre. De tanto balançar a caveira, os marimbondos, irritados, saíram e ferrou-lhe o pescoço, a testa, os braços. Foi aí que o padre gritou com toda força de sua garganta: “Esta caveira é do diabo! Veio do inferno!”. Atirou-a sobre os fiéis muito mais para se livrar dos terríveis insetos, do que qualquer outros intentos. Foi uma correria literalmente dos diabos. Os fiéis acreditavam que aquilo era obra mesmo de Lúcifer. O padre mandou colocar a caveira de onde ela nunca deveria ter saído.