Perdendo-te entre os meus dedos
- O que fiz de errado?
Perguntei-te, como se da tua boca silenciosa, fosse de novo ouvir a voz morta no tempo, que faz muito não oiço.
Muito tempo silêncio, silêncio de outros silêncios, silêncios ocultos, silêncios permanentes, que devem continuar a se-lo, que devem persistir ausentes...
Não te obtive resposta.
Claro, não se pode responder a quem não muito se deseja, não se pode sobre o pretexto de se darem falsas esperanças ou vagas ilusões.
Não se pode responder e basta, é o suficiente.
As vezes tento compreender esta maneira vaga de pensamentos, que é dissertar sobre as vontades do desejo, procurando respostas, e vontades para aquilo que sabemos ser o certo para nós, ou imaginamos ser o certo, sem no entanto termos certezas de seja lá o que for que seja para se ter a certeza de.
Sabemos apenas, e isso é o bastante.
No entanto, também tememos que essas mesmas vontades sejam apenas desejos ocultos, e, que esses desejos se tornem tementes.
Não nos postamos assim a qualquer um com medo quiçá de nos desvendarmos...
Não nos vendemos pelo preço mais barato, mesmo que as vezes seja essa a vontade que o desejo simula como certa, ó sim se é!
- Não te falo, não me chateias!!!
Foi apenas um caso.
Fica-se na linguagem do infinito
... "um caso"
Um caso apenas não me julgues apaixonado, claro está: "sempre subsiste essa incerteza".
Tudo não passa de uma ilusão; não passou de uma ilusão.
O que é a vida senão uma ilusão?!
O vento ruge sobre este elevado penhasco, que me faz avistar para além da imaginação, luto contra a tempestade onde o pensamento me eleva ao redentor, braços abertos em cruz, deixei que me desnudasses, deixei que me tivesses, deixei que me elevasses onde não existia queda, nem caída...
Sou!
Sinto a tua falta, sinto a falta que me fazes de ti...
A vida não é justa:- Penso.
Um dia tenho-te num beijo, no outro tenho-te no nada...
Oh!
Não se acalma o vento, onde borbulham ondas gigantes; não se acalmam trovejantes, esbarrando nas pedras do mar, como se as barreiras as pudessem travar no esgar da sua violência.
Será que sentem a minha dor?
As ondas contínuas que se escapam alcançam a praia, abraçando a areia com fragor, tocando-a levemente na espuma do mar com beijo de suavidade.
Alcançam suaves espumosas, como que, abraçando o corpo de uma sereia, tomado na espuma uma mulher entre os dedos da água escorridos, e corrediços para desgosto e desilusão dos meus olhos amantes.
Assim se precipitam contra os penhascos e fragas; assim se espraiam acamadas no areal; assim me revejo nas ondinas, querendo abraçar o Mundo.
Mas os meus dedos apenas tocam levemente os grãos de areia.
Perco-te entre os meus dedos, perco-te entre os meus dedos.
Paulo Martins