Violino Stradivarius
Num domingo qualquer de 1970, caminhando pelas ruas empoeiradas de terra preta do bairro Vila Carioca, encontrei com o meu amigo Dirceu. Certa vez alguém disse por brincadeira que ele era "O sanfoneiro da Vila Carioca", quem sabe a pessoa se referia ao Mario Zan "O sanfoneiro do IV Centenário", o fato é que o apelido pegou.
Dirceu era uma pessoa popular, nos fins de semana vivia tocando nos bailinhos em casas de amigos. Ele tinha muitos amigos, e gostava de fazer "cambiocó", fazer rolo. Na conversa que tivemos, ele disse que tinha vários instrumentos musicais, tinha lá umas dez sanfonas de boa qualidade, e um violino para vender.
Queria fazer rolo com minha sanfona. Uma ótima sanfona, mas naquele momento, não queria trocá-la. O Dirceu disse para eu ficar com o seu violino e poderia pagar quando pudesse. Não sabia tocar... O que poderia fazer com um violino? Resumindo acabei ficando com o violino. Emprestei de um amigo a quantia que ele pediu, uma semana depois fui pagar.
Nesta época eu trabalhava na Tipografia Andreotti - Rua Teixeira Leite, 274 – Glicério. Na qual exercia a função de "distribuidor tipográfico", foi quando conheci o chefe por apelido de "Jacaré" e num bate papo sobre instrumentos musicais, dizia ele que estava estudando o Bona (solfejo) e estava pensando em comprar algum instrumento, mas não sabia qual.
Quando ele disse isso, foi à oportunidade que tive de oferecer-lhe o violino. Fizemos um acordo, vendi o instrumento à prestação, enfim ganhei CR$ 200,00 mesmo pagando juros ao amigo que me emprestou. Negócio da China... Todo mês ele pagava certinho, recebia o holerite da empresa e na saída me pagava.
Meses depois acabei saindo da tipografia e fui até a sua casa receber a última prestação. Não recordo o nome da rua, mas era numa subida próximo da Rua Teixeira Leite. Cheguei ao endereço, e vi lá um enorme casarão (antigo), pensei será que ele era o dono deste casarão. Mas em seguida percebi que o casarão fora transformado num cortiço.
O jovem pernambucano morava embaixo de uma escada, dividindo todo aquele casarão com outras tantas famílias. Tinha muita gente por lá, todos nordestinos. Anos depois ouvi uma notícia divulgada na TV sobre violino Stradivarius, não recordo muito bem, mas parece que existem apenas cinco no mundo, e por onde andam ninguém sabe.
Esse que comprei e vendi seria um deles? Enfim nunca mais vi o colega de serviço por apelido de Jacaré, e também não sei que fim deu o violino Stradivarius. Pesquisando sobre o assunto achei a seguinte informação: Há diversas teorias sobre a sonoridade de seus violinos.
Uma delas diz que o segredo da sonoridade de seus instrumentos estava no verniz utilizado por ele, que acreditavam conter cinzas vulcânicas, o que tornava o instrumento mais duro e assim melhorando a sonoridade. Essa teoria ainda não foi comprovada por pesquisadores.