Não bata nunca na cabeça da rola
“Não há bala que consiga abater certas espécies de pássaros. É besteira dormir na mira. Falo do triste pássaro da sabedoria” (Luiz Augusto Crispim)
Na foto, eu caçando rolinhas na mata do fim da Rua São Sebastião, em Itabaiana, quando ainda existiam matas nas redondezas dessa cidadezinha decrépita. Foi minha primeira e única experiência como caçador de rolinhas, tendo como professor meu compadre Juarez Menezes, que hoje é contador de dinheiro alheio na Caixa Econômica, e juntador de dinheiro próprio. Dizem que compadre Juarez tá mais rico do que Bill Gates.
Nessa caçada, disparei 18 tiros com a espingarda de soca-soca, sem atingir um único passarinho. O compadre Juarez, por sua vez, quase acaba a espécime das rolinhas “Fogo pagou”. Hoje não há mais bicho algum por aqui, nada sobreviveu. Mataram tudo, e um dos responsáveis é o Juarez caçador, o serial killer dos passarinhos.
O que me fez abandonar a carreira de caçador foi o método utilizado por Juarez para acabar de assassinar as rolinhas. Depois de abatida pelo tiro meia-boca da espingarda, a bichinha ficava agonizando. Juarez batia na cabeça da rola com uma pedra, pra acabar de matar. (Esse papo de bater na cabeça da rola chega me deu uma dor imaginária!) Achava aquele modo de proceder tão cruel que parei de caçar.
Por gostar de passarinhos, tentei criar uns presos em gaiolas. Meu xexéu de bananeira era show! Cantava até o hino nacional em fá maior. Depois também achei aquele passatempo idiota. Perguntei a Juarez porque ele mantinha pássaros presos em gaiolas, quando não os matava. “Se eu não posso voar, ele também não voa”, disse o insensível caçador. Depois de ver criadores de pássaros mutilando os bichinhos para cantar melhor ou brigar, acabei com cativeiro dos meus sabiás e canários. Dei alforria. É pura perversão manter pássaros numa gaiola. Pintou a consciência ecológica.
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