SEM MEIAS-PALAVRAS
 
 
Hoje, cheguei num ponto onde a ilusão não habita. Triste e real constatação dos fatos. Nem sei exatamente porque usei o adjetivo “triste”. Talvez porque não esteja acostumada a encarar o mundo e as pessoas sem qualquer romantismo, então, por pior que a situação pareça eu sempre tenho a pitada de algum pó mágico para amenizar a intensidade fantástica dos fatos.
Mas hoje, não...hoje, rasguei a pele, cortei a carne, cheguei no osso...
Sei que a convivência mais complicada que existe é a de um ser humano com outro. Complexidade, mistérios e individualismo são apenas alguns dos ingredientes que compõem a questão.
Mas visto que, no quesito surpresa, nós sempre conseguimos nos superar, sendo surpreendidos ou surpreendendo, e que, quanto mais se espera de alguém, mais decepções estamos sujeitos a ter ou quanto menos se espera de alguém, mais indiferentes ficamos e, por conseqüência, menos envolvimento criamos, então, qual opção escolher, se o cérebro foi condicionado à constante busca de caminhos para a fuga do sofrimento ?
Avaliar o que se passa na cabeça de alguém, entender seus motivos,  racionais ou não, compreender suas vontades, seus valores, digerir as palavras indigestas que ouvimos, respeitar sem ser respeitado, não é tarefa fácil. E quantos de nós temos que passar por isso todo dia, em vários níveis de relacionamento : afetivo, profissional, familiar ?
Que o mundo é uma roda-viva veloz e sem piedade, muitos de nós sabemos. Como sobreviver nele mantendo alguma sanidade, permeada por pingos de felicidade, essa é a busca de alguns.
Num cenário onde vários parecem priorizar o que não é vital, onde a realidade é fantasiada de ficção, onde a massificação gera despersonalização, onde devemos atuar, sem sermos devorados por essa quimera ?
Quero um pouco de ar puro, mas constantemente, o que me vem às narinas e alimenta meus pulmões é tóxico. Procuro serenidade mas, ao meu redor, insanidades proliferam. Daí onde percebi que não mais adianta essa busca interminável por uma fuga impossível.
Daí onde percebi que nesse drama sem fim que é o ato de viver, ou nos transformamos na infeliz maioria ou convivemos com ela, sabedores inconformados da tal realidade, mas com sentimentos e pensamentos aprisionados numa ilha de perene solidão.