Ô, abre alas...
Edson Gonçalves Ferreira
Edson Gonçalves Ferreira
Tia Eulina, Papai Arlindo Ferreira, Vovô Joaquim José Ferreira e Tia Aurora
Assistindo ao desfile das escolas-de-samba do Rio de Janeiro, lembrei-me dos tempos em que as escolas-de-samba eram mais autênticas, ou seja, não tinham se industrializado tanto. Elas eram a manifestação legítima da alegria dos foliões e, principalmente, de gente que amava brincar durante os dias de folia.
Aí, resolvi escrever sobre o carnaval de Divinópolis, cidade onde nasci, cresci e vivo. Lembro-me, perfeitamente, de quando, ao lado do colunista Jorge Miranda Coelho (in memoriam), resolvemos criar a Escola de Samba Unidos do Divino. Eram quatro os membros fundadores: Jorge Miranda Coelho e José Gonçalves (in memoriam), Edson Gonçalves Ferreira e Eliana Miranda Coelho. Foi uma época de ouro, porque tínhamos uma escola-de-samba que era formada por gente sadia e que ensaiava na porta da casa de Dona Nita Miranda Coelho, mãe do Jorginho.
Voltando, porém, mais ao passado, precisamente no final do século XIX e início do século XX, sei que meu avô Joaquim José Ferreira (Bigode), que formou uma orquestra com seus filhos, inclusive com meu pai que era o caçula de uma prole enorme (Rodrigo, Antenor, José, João, Arlindo, Luiza, Eulina e Aurora) que, naquela época, animava o cinema mudo de então.
Com essa mesma orquestra, vovô alegrava o carnaval do início do século XIX em Divinópolis tanto que minha tia Eulina Ferreira Gonçalves contava sobre os entrudos e as águas de cheiro e o corso que aconteciam naquela época. Surgiam os primeiros carros e, então, as moçoilas desfilavam nos carros, jogando águas de cheiro que eram fabricadas em casa o que, então, exigia uma grande preparação.
O poeta Edson Gonçalves Ferreira diante de fantasias de Carnaval
Depois, quando ainda era criança, lembro-me do meu pai Arlindo Ferreira (Bigode) que, em casa, tirava as marchinhas de carnaval dos cadernos de música e, então, eu era escolhido para passar as páginas para ele. Eu adorava, porque, assim, comecei a aprender a ler as notas musicais e, depois, cobrava dos meninos na rua para lhes ensinar as modas do carnaval. Era a época de ouro dos bailes de carnaval nos clubes e meu pai tocava tanto nas matinés quanto nos bailes noturnos. O rei momo era Tio Nelson Pelegrino que, sem dúvida, foi o mais famoso da história do Carnaval de Divinópolis.
Meu pai Arlindo Ferreira (Bigode) chegou a desfilar com Nonô, que fundou e durante décadas e mais décadas, dirigiu a Escola de Samba Tupi ao lado de outros músicos com Maestro João Pinto, José Bola, Salim Ayres da Silva e da eterna dama do nosso carnaval, Dona Oraida, esposa do saudoso Nonô. Nonô e Dona Oraida formavam o mais belo casal de mestres-salas do carnaval de Divinópolis.
Era uma festa ver os preparativos para o carnaval. Meu pai nos levava até um bairro que, naquela época, parecia distante, o bairro Esplanada onde Nonô ensaiava. Havia figuras folclóricas no Carnaval de Divinópolis, como o Boi do Sabino, como um índio que desfilava na Tupi e assustava todos nós, meninos. Quantas lembranças!...
Depois, como já escrevi acima, na minha adolescência, Jorge Miranda Coelho, Eliana Miranda Coelho, José Gonçalves e eu resolvemos fundar a Escola de Samba Unidos do Divino que, então, reuniu pessoas de todas as classes sociais da cidade. A bateria era comandada por Jairo Miranda Coelho com Luciano e Lobão. Havia até uma ala formada por professores na qual, inclusive, desfilaram: Prof. Jadir Vilela de Souza, Profa. Lisle Andrade Levrero Topolanski, Prof. Mercemiro Oliveira Silva, eu e outros cujo nome não me recordo agora. Já existiam, também, outras escolas como os Metralhas, dirigida por Valdete Viriato e a Santa Cruz dirigida por Expedito.
Muita gente se destacava nas variadas escolas e entre eles citamos: Ivan Silva, Neneca Mattar, Paula Salão, Dora Amaral, Eliana Miranda Coelho, Rosângela Guimarães, Ana Luiza Pêra, Lecinho, Marinho, Rogério e Sérgio Pacheco, Laine Amorim, Ana Lúcia Guimarães, Helena Alvim, José Hilton Machado, Marizinha Martins, entre outros, tantos outros cujos nomes me faltam agora.
Mais tarde, quando já começava a febre do axé, quando a Prefeitura resolveu que não mais apoiaria as escolas, surgiu a Escola de Samba do Estrela do Oeste Clube que desfilou bem e marcou nobre presença e, depois, o carnaval de rua de Divinópolis, sem incentivo da municipalidade, morreu. Hoje, só resta a saudade quando se ouve a tradicional música que abre as folias do Momo: “Ô, abre alas, eu quero passar... eu sou da lira, não posso negar, eu sou da lira, não posso negar...”
Divinópolis, 14.02.08
Assistindo ao desfile das escolas-de-samba do Rio de Janeiro, lembrei-me dos tempos em que as escolas-de-samba eram mais autênticas, ou seja, não tinham se industrializado tanto. Elas eram a manifestação legítima da alegria dos foliões e, principalmente, de gente que amava brincar durante os dias de folia.
Aí, resolvi escrever sobre o carnaval de Divinópolis, cidade onde nasci, cresci e vivo. Lembro-me, perfeitamente, de quando, ao lado do colunista Jorge Miranda Coelho (in memoriam), resolvemos criar a Escola de Samba Unidos do Divino. Eram quatro os membros fundadores: Jorge Miranda Coelho e José Gonçalves (in memoriam), Edson Gonçalves Ferreira e Eliana Miranda Coelho. Foi uma época de ouro, porque tínhamos uma escola-de-samba que era formada por gente sadia e que ensaiava na porta da casa de Dona Nita Miranda Coelho, mãe do Jorginho.
Voltando, porém, mais ao passado, precisamente no final do século XIX e início do século XX, sei que meu avô Joaquim José Ferreira (Bigode), que formou uma orquestra com seus filhos, inclusive com meu pai que era o caçula de uma prole enorme (Rodrigo, Antenor, José, João, Arlindo, Luiza, Eulina e Aurora) que, naquela época, animava o cinema mudo de então.
Com essa mesma orquestra, vovô alegrava o carnaval do início do século XIX em Divinópolis tanto que minha tia Eulina Ferreira Gonçalves contava sobre os entrudos e as águas de cheiro e o corso que aconteciam naquela época. Surgiam os primeiros carros e, então, as moçoilas desfilavam nos carros, jogando águas de cheiro que eram fabricadas em casa o que, então, exigia uma grande preparação.
O poeta Edson Gonçalves Ferreira diante de fantasias de Carnaval
Depois, quando ainda era criança, lembro-me do meu pai Arlindo Ferreira (Bigode) que, em casa, tirava as marchinhas de carnaval dos cadernos de música e, então, eu era escolhido para passar as páginas para ele. Eu adorava, porque, assim, comecei a aprender a ler as notas musicais e, depois, cobrava dos meninos na rua para lhes ensinar as modas do carnaval. Era a época de ouro dos bailes de carnaval nos clubes e meu pai tocava tanto nas matinés quanto nos bailes noturnos. O rei momo era Tio Nelson Pelegrino que, sem dúvida, foi o mais famoso da história do Carnaval de Divinópolis.
Meu pai Arlindo Ferreira (Bigode) chegou a desfilar com Nonô, que fundou e durante décadas e mais décadas, dirigiu a Escola de Samba Tupi ao lado de outros músicos com Maestro João Pinto, José Bola, Salim Ayres da Silva e da eterna dama do nosso carnaval, Dona Oraida, esposa do saudoso Nonô. Nonô e Dona Oraida formavam o mais belo casal de mestres-salas do carnaval de Divinópolis.
Era uma festa ver os preparativos para o carnaval. Meu pai nos levava até um bairro que, naquela época, parecia distante, o bairro Esplanada onde Nonô ensaiava. Havia figuras folclóricas no Carnaval de Divinópolis, como o Boi do Sabino, como um índio que desfilava na Tupi e assustava todos nós, meninos. Quantas lembranças!...
Depois, como já escrevi acima, na minha adolescência, Jorge Miranda Coelho, Eliana Miranda Coelho, José Gonçalves e eu resolvemos fundar a Escola de Samba Unidos do Divino que, então, reuniu pessoas de todas as classes sociais da cidade. A bateria era comandada por Jairo Miranda Coelho com Luciano e Lobão. Havia até uma ala formada por professores na qual, inclusive, desfilaram: Prof. Jadir Vilela de Souza, Profa. Lisle Andrade Levrero Topolanski, Prof. Mercemiro Oliveira Silva, eu e outros cujo nome não me recordo agora. Já existiam, também, outras escolas como os Metralhas, dirigida por Valdete Viriato e a Santa Cruz dirigida por Expedito.
Muita gente se destacava nas variadas escolas e entre eles citamos: Ivan Silva, Neneca Mattar, Paula Salão, Dora Amaral, Eliana Miranda Coelho, Rosângela Guimarães, Ana Luiza Pêra, Lecinho, Marinho, Rogério e Sérgio Pacheco, Laine Amorim, Ana Lúcia Guimarães, Helena Alvim, José Hilton Machado, Marizinha Martins, entre outros, tantos outros cujos nomes me faltam agora.
Mais tarde, quando já começava a febre do axé, quando a Prefeitura resolveu que não mais apoiaria as escolas, surgiu a Escola de Samba do Estrela do Oeste Clube que desfilou bem e marcou nobre presença e, depois, o carnaval de rua de Divinópolis, sem incentivo da municipalidade, morreu. Hoje, só resta a saudade quando se ouve a tradicional música que abre as folias do Momo: “Ô, abre alas, eu quero passar... eu sou da lira, não posso negar, eu sou da lira, não posso negar...”
Divinópolis, 14.02.08