VIRGINDADE - QUE VALOR TEM?

Um amigo psiquiatra, Roberto Petrúcio, falecido há tempo e morreu com seus quarenta e poucos anos, deixou um casal de filhos e eu era madrinha do caçula. Ele me dizia: "Quando minha filha for moça, vai me pedir a chave da casa para ir às festas, vou dar e lhe dizer que não esqueça a camisinha". Eu respondi: Você está louco! Ele só fazia rir.

Os anos passam e a previsão dele acontece. O que significa ser virgem? Os valores mudaram. Naquele tempo, até ser noiva tinha os dois lados da história: a moça ficava feliz com a perspectiva do casório e, ao mesmo tempo, se este não acontecesse, o estigma de ter colocado uma aliança no dedo,ter permitido "certas liberdades" no namoro marcaria sua vida de forma negativa. Um dia um namoradinho comprou-me uma aliança e eu disse-lhe: Pode guardar! Não tenho certeza dos meus sentimentos e com pouco tempo acabei. Já minha amiga Edméa, estudava na minha turma, morávamos no mesmo pensionato de freiras e ela era noiva. Eu dizia para os conhecidos, não me confunda!A noiva é a outra. Tinha,na ocasião, quinze anos e minha meta era ser independente financeiramente.Edméa sabia disso. Ela casou-se e vive até hoje com o Zé Maria. Morei dois anos com uma tia que só possuia uma filha.Esta prima inventa de fugir com o namorado. Era moda fugir para "obrigarem" os pais a fazerem o casamento. Descobrem, minha tia e os pais do rapaz, eles em Paripueira. Prepara-se o casório. Na ocasião, uma prima minha, casada há anos, que morava no Rio de Janeiro, ficou horrorizada porque a prima ia casar de branco, não sendo mais virgem. E daí? Horrorizada fico eu com tamanho preconceito, disse-lhe. Dei o maior apoio, fui acertar igreja, vestido, festa, acompanhando tia Otávia que sentia-se até meio desamparada nesta empreitada. Deu certo, só não deu o casamento, mas coisa de quem casa muito jovem.

Leio "La crónica de una muerta anunciada. Gostaria de não ter me envolvido sentimentalmente com o livro. Senti pena em saber que o jovem de 21 anos estava sendo procurado para ser morto. A morte mais anunciada da história. Vai morrer pelas mãos de outros dois jovens, irmãos gêmeos,rapazes sossegados e do bem, mas que se sentem no direito de honrar a irmã. Há um grande casamento numa cidade do interior colombiano e a moça, após a noite de núpcias,é devolvida à casa dos pais por não ser mais virgem. Questionada, pressionada pelos irmãos, revela que o autor de não ser mais virgem é o Santiago Nasar. Ela faz esta revelação, sem, no entanto, ninguém ter sabido de qualquer encontro, namorico, entre eles. Morreu inocente? Ela tinha o hímen complacente? Sabe-se que sendo complacente não sangra na primeira relação. Fica a dúvida sobre a cupabilidade de Santiago. Por fim, a morte anunciada se concretiza.

Gabriel García Marquez, autor do livro, baseou-se em um fato verídico de seu conhecimento. Quando a leitura do livro foi proposta, para prova oral de espanhol, alguns colegas jovens disseram que "É mais fácil a jovem ser devolvida hoje por ser virgem". Perder a virgindade só é preocupante se a jovem vacilar em termos de segurança, em relação à uma gravidez indesejada, a uma doença como a AIDS que continua fazendo vítimas. Havendo um relacionamento razoavelmente estável, a jovem tendo relativa segurança no que está fazendo para não gerar uma culpa, as coisas vão acontecer de forma natural. Não perder a virgindade apenas para fazer parte de um grupo de amigas que já a perderam. Esta opção com certeza vai gerar problemas. Não é por aí, como também não é a virgindade estar associada com a honra, coisa já bem ultrapassada, pelo menos em alguns países. A questão não é perder ou não a virgindade, mas quando e com quem. Estar preparada para tal, ou não? A sensatez será o melhor caminho.