ARISTOTELES E MACHADO DE ASSIS

Existem dois tipos de conhecimento universal que antecede o advento do fenômeno da vida humana. Eles existem independentemente de você e eu existirmos, porque simplesmente não dependem de nenhum de nós para existir. A esses dois conhecimentos nós podemos chamar de alma individual e alma coletiva; ou de Enteléquia (conforme a terminologia da filosofia aristotélica) e Inconsciente Coletivo (segundo a terminologia de Jung). A esses dois fenômenos Machado de Assis simplificou e chamou de Humanitas, ou simplesmente Necessidade de Sobreviver.
Enteléquia é a matriz energética inicial (ou seja, um programa matriz) que nos dá a conformidade biológica e física que assumimos em nossa existência terrestre. Ela nos diz se seremos um pato, um leão, um elefante ou um homem. E orienta também o nosso biótipo. Alto, baixo, magro, gordo, careca, cabeludo, etc. É claro que nessa orientação é possível interferir, mudando um pouco essa conformação. A medicina e a educação física estão aí para essa finalidade.
Enteléquia, em termos de tipo humano, ou caráter, não conforma, apenas orienta. E ela se torna uma força tão mais ativa e potente quanto mais consciente dela nos tornamos. Ela é energia e energia pode ser captada para determinado propósito. As plantas captam energia do sol para orientarem seus crescimentos; o homem capta a força das águas dos rios para gerar energia elétrica; a energia elétrica é captada para fazer girar motores, iluminar cidades, acionar máquinas, etc. Deus fez os mais variados tipos de energia para que elas pudessem ser acionadas para movimentar os motores do universo.
A natureza é uma mãe cujo útero está prenhe de energia. Os seres humanos também. Há a energia que aciona a nossa mente e a faz fabricar pensamentos; há a energia que movimenta os nossos músculos e nos impulsiona nas nossas ações. Ambas são energias de potências insuspeitadas. Não se pode medi-las em quilotons, nem em HPs (cavalos de força), watts, ou qualquer outra medida técnica inventada pelo homem para medir as forças da natureza. Nós só sabemos que elas existem e que são acionadas quando um determinado interruptor é acionado. Então nos tornamos fortes ou fracos, ativos ou reativos, corajosos ou covardes. Assim também é Enteléquia, a nossa energia interior. Você a tem, eu a tenho, todos temos. Só precisamos aprender a usá-la.

                                     
A outra força da qual falamos é aquela que Jung chamou de inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo é um conhecimento do qual todos nós, em todos os tempos, participamos, mesmo ser ter consciência dele. É uma sabedoria que parece ser contemporânea da primeira célula que despertou para o mundo das criaturas vivas. É algo assim como o instinto maternal, a capacidade de procriar, a tendência para o acasalamento, a busca do agrupamento, a necessidade de um ritual para atingir estados de consciência superiores, a crença em uma divindade, etc.Ela pode ser detectada a partir da primeira célula viva mas atinge o seu apogeu com o surgimento da espécie humana.
Essa é uma energia coletiva porque está à disposição da totalidade da humanidade e é como se fosse um gerador alimentado pelos comportamentos, reflexões e descobertas feitas pela humanidade em todos os tempos. Teilhard de Chardin a chama de Noosfera, uma espécie de camada energética formada por todos os pensamentos já emitidos pelo ser humano, desde que o primeiro homem emitiu a primeira reflexão. Ela é como a atmosfera, fica suspensa em volta da terra, e pode ser acionada pela mente humana em sua tarefa de reflexão. Dessa forma, justifica-se a metáfora que diz que a nossa mente é como um receptor de rádio que emite e recebe informação.
Inconsciente Coletivo ou Noosfera são energias realmente fortes e podem dar um rumo à nossa vida. Mas elas também não são absolutamente conformativas. O que quer dizer que você não deixará de ser feliz se não acasalar, se não tiver uma religião, se não tiver filhos, se não pertencer a um grupo social, etc. Mas tanto quanto a Enteléquia, a sua energia individual, você pode captar o Inconsciente Coletivo como força para orientar suas ações. É o que fazem os grandes líderes quando modelam seus heróis, quando observam as grandes leis sociais, quando fazem o conhecimento acumulado da humani-dade trabalhar a seu favor.
Você pode achar que tudo isso é misticismo barato. Mas não duvide de uma coisa. A humanidade (Humanitas, como dizia Machado de Assis), é um ser ontológico. É um ente vivo, produzido pelo desejo do ser humano de sobreviver. Desde que o primeiro exemplar da espécie humana fez a primeira reflexão, e o segundo aproveitou-a como conhecimento, nós a emancipamos. E desde então ela passou a ser a nossa gestora. Nós a criamos para servir-nos e passamos a ser serviçais dela. Só vivemos, como dizia o personagem de Machado de Assis, para servir a Humanitas. Tudo que fazemos é para garantir, não a nossa sobrevivência individual, mas para salvaguardar a existência da espécie. Assim, nós só nascemos para fazer parte da Humanidade. Para servi-la e se integrar a ela como realização de um todo indissociável.
Enteléquia e Humanitas têm um propósito para cada um de nós. Talvez a gente não saiba qual é, mas elas sabem. De resto, a virtude está em aprender a captar essas duas energias para o bom cumprimento da nossa missão. Tudo o mais, como disse Jesus, nos será dado como acréscimo.



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 21/03/2011
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