SONHOS INFANTIS - História de uma parceria
Ao Gerson Bientinez
Um anoitecer e uma provocação. Gerson Bientinez falou entre as linhas da ironia que gostaria de fazer uma música chamada Conhaque com nhoque. Pensei que se tratava de uma brincadeira, mas ele enfatizou a musicalidade das palavras. Senti o pensamento aquecer com a inquietação, nunca havia imaginado sequer experimentar o prato italiano com tal aperitivo, contudo os alimentos estavam na mesa, era sentar e degustar, ou melhor, criar...
Nhoque da fortuna, dia 29, faltava o frio para o conhaque, mas... Final de maio de 2003, necessariamente dia 29. Noite fria curitibana. Gerson chegou com o conhaque e o violão. Dedilhamos a noite nos acordes de nossa primeira parceria. Malícia de almas embriagadas temperando os versos enluarados do nhoque a bolognesa. A composição dos encontros e desencontros com expectativa de um novo dia 29.
O bolero “Conhaque com nhoque” se transformou em jazz e quem sabe como será apresentado na próxima vez, mas a beleza do encontro selou o apetite para novas criações. Um fastfood de harmonias... Quem sabe músicas de baixas calorias...?
“Mais um gole. Uma mordida macia...”
Passado o primeiro momento, quando compor é um desafio, surge um novo anoitecer. Beatriz, a que faz os outros felizes, nasce com a inspiração para uma nova música. O estranhamento e as primeiras percepções da menina longe do ventre são desenhados num céu cheio de estrelas. O primeiro presente ofertado a menina é uma música com o amanhecer de todos os sonhos: “Dorme, sonha, Beatriz/Faz do mundo alegria/A noite está por um triz/Pequena Bia”.
Entregues à intensidade das metáforas infantis e com a parceria resgatada no onírico projeto, Gerson Bientinez e eu nos aventuramos a desvendar o mundo na particularidade de cada criança. A vida como o oceano do Mario Vinícius, “O pequeno passeia o olhar no horizonte/O mar encanta e brinca com as ondas; o riso de Barbarella refletindo a realização de ser, “Desenha a esperança/Pinta o rosto de sua boneca/Tece os retalhos de criança/Ri meu riso Barbarella”; as travessuras do menino que nasceu no dia das bruxas, “Primeiro choro rasga o luar/As noites brindam fantasias/Vito acorda o sonho do amor/O mundo de graças e purpurinas”, e os sonhos do Matheus ganham horizontes “Nos grandes mares coloridos/São meus os sonhos teus”...
Primeiros versos. A poesia de Barbarella é resgatada nos cadernos escolares e se transforma em letra de canção. A melodia e os arranjos resumem os sentimentos que alicerçam o mundo em ternura e alegria. A capacidade de criar o imaginário no mundo real: “Soltei a pipa amarela/Debruçada na janela/Desenhei muitas estrelinhas/Com um caderno de linhas”.
Cada criança dança nos sonhos de suas alegorias. Letras e músicas. O projeto dos Sonhos Infantis ganha a realidade nas interpretações de Heloísa Ribeiro (Beatriz Menininha), Rogéria Holtz (Primeiros Versos), Heverson Carvalho (O Mar e o Vinícius), Simone Belquiz (Barbarella), Lídio Roberto (Vito) e Flávia Dias (Sonhos Teus), além da participação especial de Maria Thereza Spina, filha da Rogéria.
Novas composições? Quem sabe no próximo dia 29?