Brilho que renova

Faz muito tempo que não escrevo nada, nem um verso sequer... Mas ontem à noite, uma cena chamou bastante minha atenção e despertou um sentimento puro guardado à algum tempo.

Estava eu saindo de uma jornada exaustiva e estressante de mais de 60h ininterruptas de plantão no hospital que sou médico residente. Tudo o que eu mais queria era chegar em casa, tomar um banho quente , comer algo bem gostoso, desnutritivo e correr pro berço. Com essa idéia fixa na mente corri para o supermercado de costume, fiz minhas compras de junk food , paguei e me dirigi ao carro.

No caminho, um senhor na casa dos 80 anos, provável morador de rua, com uma vestimenta desgastada, cabeça alva como algodão, seguia com passos curtos e lentificado pela idade, arrastando um par de sandálias tão velho quanto o dono. Lancei um olhar periférico, descompromissado e algo atraiu ainda mais minha atenção, apagando por completo qualquer pensamento inútil e vazio que pudesse estar passando por minha mente naquele momento. Do seu rosto cansado e marcado pelos anos vividos, notava-se um brilho, uma luz que refletia todo a sua alegria. Alegria tamanha que chegava a transbordar pra qualquer pessoa que ousasse chegar perto. Em suas mãos, um arranjo simples, porém muito bem feito, de três rosas vermelhas. Dava pra perceber que tinha feito um investimento por aquelas rosas. Seus olhos fixos no arranjo. Uma das mãos o protegia do vento, com carinho e esmero, como se protegesse seu bem mais precioso, como se protegesse a própria futura dona desse pequeno ramalhete.

Aquilo me tocou profundamente, e ficou martelando minhas idéias enquanto chegava ao carro. Quando entrei, por um momento, fiquei parado e pensando...

Eu andava desiludido. Não acreditava mais no amor, nem nas pessoas. Mas depois dessa cena, que nunca esquecerei, não restam dúvidas. Ainda existe amor, ainda existem pessoas de coração puro, que independe de cor, raça ou poder aquisitivo.

Pano