CANTOS E ENCANTOS

CANTOS E ENCANTOS

Que a nossa terra era tida como a "terra de grandes músicos" não temos a menor dúvida. No início da década de 50, possuíamos duas bandas de música, por sinal, excelentes. Antes, no início dos anos 30, existia uma grande banda na qual destacavam-se o maestro Domingos do Morro, Juca Iluminato, Zé Domingos e vários outros virtuoses. Nessa época, na inauguração do Fórum de Piranga, dentre as bandas presentes, a nossa foi a escolhida para executar o Hino Nacional, de acordo com o jornal "Cidade de Piranga", também da época.

Em 1950, fui aluno do Juca Iluminato (começou a avacalhação, irão dizer os meus ex colegas da Minascaixa...) e não consegui ir além da escala natural. Quando comecei na escala cromática, desisti de vez . Escala cromática ô Migliorini, é a escala formada por uma sucessão de semitons diatônicos e cromáticos. Entendeu? - Nem eu...

Voltemos às feras: vieram depois os não menos famosos: Amantino Diogo, Geraldino Diogo, José Marcelo, José de Lima, Totoni de Sá Emília, Zizinho Peixoto, Deíco (Adeícula), Aníbal e Elias Diogo, Chiquinho Ferreira, Olindo, Zé Diogo, Matias de Moura, Levindo Chagas, Raimundo Elói (que também foi maestro) e vários outros. O João de Moura, além de instrumentista, foi maestro de uma das bandas daqui , maestro da banda da Universidade de Viçosa e compositor (principalmente de dobrados). Pouco depois destes vieram: Geraldo Diogo, Dimas Diogo, Zinho Diogo, José Chagas, Efreim, Geraldo de Zé Manuel que fez parte da banda da PM de Belo Horizonte, Nonô de Felicano Fagundes, Juca de Tião Dentista e outros. A safra continuou e continua, atualmente, em marcha lenta. No violão, destacaram-se: Raimundo Elói, Zinho Diogo,Valtinho (também no cavaquinho), Bim de Bem-Bem, Tadeu Peixoto, Efreim e outros. O Zinho Diogo e o Efreim tocavam qualquer instrumento.O Aníbal de Crispim era muito bom no violino e o Inhô de Juca era o bom do bandolim. Essa era a nata da música local. Posso até ter me esquecido de alguns, mas esses eram os mais badalados.

Agora vamos ao outro lado. Embora não sendo músicos existiam aqueles "compositores" para as mais diversas situações. Antônio Paca, um chapa de caminhão, recebeu esta homenagem após ter roubado o galo de Tatá:

"Antônio Paca roubou o galo de Tatá!

Antônio Paca é Prefeito de Ubá !

Antônio Paca é Deputado Federá"

O Antônio podia ser prefeito ou deputado, mais que roubou o galo, roubou. Todos os rapazes do final da década de 50, assoviavam ou cantavam a música da letra acima.

Outra preciosidade nos foi deixada pelo Tuca França quando entrou na venda de Zé Diogo e pediu uma cachaça:

‘‘ô Zé Diogo

tô ficando jururu,

eu pedi foi Água Limpa

ocê me deu foi Tanjuru"

Ele estava se referindo às cachaças Água Limpa e Itajuru.

Na briga do PSD com o PR, um eleitor do PR que foi denunciado pela turma do PSD, cantou uma musiquinha com a seguinte letra:

"Lá na rua de baixo,

Lá na beira da horta,

A polícia me prende, ô lelê,

Zé de Castro me solta".

Zé de Castro era um delegado que protegia os perristas. Certa vez, chegou, aqu i, um delegado e manifestou o desejo de criar porcos . Veja o que apareceu:

"Chegou o delegado

Querendo porcos engordá

O PR deu os leitões

O PSD o Fubá"

O Coreréu (Edson Sabino), um rapaz de muita amizade na cidade, foi tirar carteira de motorista em Ubá, recebeu por parte do Oto Dentista esta homenagem:

" Coreréu falou em Carteira

Foi em Ubá e ficou na barreira.

Perder mil cruzeiros não é brincadeira,

Coisa que não se acha no meio da poeira."

Quando o Zé Brazinho ganhou a eleição municipal, os seus eleitores cantavam:

" Eu vou chorar

Chorar baixinho,

O nosso Prefeito

Agora é o Zé Brazinho."

Na construção da ponte , pelo Prefeito do PR ,quando a obra parava por falta de verba o Oto Dentista vinha com esta:

"Vamos Sô Élio

Prá Belo Horizonte

Buscar dinheiro

Prá fazer a ponte".

O Pulichinha, irmão do tio Antônio Fogueteiro ,tocava trombone na banda de Sto. Antônio, participava dos teatros e tinha também a sua musiquinha particular:

Eu me chamo Pulichinha,

Sou amigo das meninas,

Eu não bebo mais cachaça

pois cachaça mata a gente...

Já falei com Sô Juquinha,

prá parar de fabricar,

esta água tão gostosa,

que faz a gente chorar...

O Sô Juquinha a que ele se refere é o Sô Juquinha da Água Limpa.

Também nessa época apareceu por aqui um violonista famoso, o Prof. Matos. Ele fez uma apresentação no salão que funcionava debaixo da antiga Casa Paroquial. Compôs várias músicas na base da brincadeira .Eu me recordo de uma:

"Entra homem, entra criança,

no buteco do Zé França.

Entra homem, entra muié

Lá na venda do Zezé ..."

O Zezé é o compadre Zé Fernandes. Logo depois apareceu o violonista e compositor Mozart Bicalho que compôs a famosa valsa “CALAMBAU”, cantada e encantada por várias gerações.

O Zé Pinheiro, morador da zona rural do Bahia, muito devoto de Santo Antônio e eleitor de Ninico Carneiro, também tinha as suas rimas:

"Viva Antônio Quintão Carneiro e Santo Antônio que é o nosso padroeiro!".

Na folia de Reis, tínhamos:

"Senhora dona de casa,

abra a porta e acende a luz (bis)

Deus lhe pague a bela esmola

dada de bom coração (bis)"

Dos congados:

Ô sô Rei de crôa,

ô sô Rei croado,

o senhor me dá licença

d`eu entrá neste reinado."

No campo da U.S.E.,após uma vitória da União Sportiva Educacional, a torcida cantava:

"Junto à bandeira esportiva

de nossa amada União,

O nosso time se agita,

com viva voz e emoção.

Avante! avante, avante a lutar!

com bravura varonil,

para o bem da U.S.E.

e para a glória do Brasil!

A letra desse hino é de autoria da tia Lurdinha, mais precisamente, Maria de Lourdes Carneiro Peixoto e o autor da música é o Sr. José Maria Peixoto, o Zizinho Peixoto.

Essas foram algumas das músicas do cancioneiro local, cantadas em nossa cidade, principalmente, na década de 50 e princípio de 60. Existiam também as famosas serestas, mas aí é outra estória a ser contada posteriormente.

O nosso povo sempre foi muito ligado à música!

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Murilo Vidigal Carneiro - Calambau/janeiro/2008

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 19/03/2011
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