A Primeira Vez
Quinze anos. Quarto rosa, cheio de bonequinhas. Respiração ofegante. Ansiedade pela descoberta. Teria Cabral sentido a mesma coisa antes de pisar em terras desconhecidas? Eu estava, finalmente, preenchendo a última lacuna do que separava o Homem do Moleque. Quer dizer, estava quase. Estava, pela primeira vez, de cuecas agarrado com uma mulher. Ela, estava só de calcinha, pela segunda, ou oitava vez, com um homem. Estava afobado. Pensa, uma década e meia esperando por aquele momento! Esbaforido, apertava os peitos com força e era advertido. Chupava os mamilos loucamente e era advertido. Apertava a bunda e ganhava arranhões, beliscões e mordidas. E ficava curioso pra descobrir algumas sensações. Beijava a barriga, mordia os mamilos (e era repreendido). Fazia isso com um olho fechado, como se aberto ele desviasse a minha atenção aos movimentos que me davam prazer. Com o olho que ficava aberto eu observava a mudança de expressões, os lábios em forma de sorriso se transformando num ricto de prazer ou sendo mordidos pelos caninos amarelados de uma fumante. E com um olho aberto e o outro fechado, eu descobria o que ME dava prazer numa mulher e o que proporcionava prazer à ela. E tinha aquela fenda. Aquele Gap que uma calcinha de algodão afundava suavemente. Aquele risco. Aquela racha. Qual seria a sensação de tocar numa buceta? Eu estava extremamente curioso e meu pau latejava dolorosamente. Minhas mãos, absorvendo do âmago do instinto uma malícia que eu mesmo desconhecia que possuia, de tão latente que ela estava. Passeavam pelas coxas e pela barriga, rodeando aquele cobiçado lugar, sondando, como uma tropa perscrutando o bivaque do exército inimigo. Observando os pontos vulneráveis, incitando, construindo armadilhas. Enquanto eu rodeava o acampamento inimigo, um monstro desconhecido repousava em sua tarimba. Meu exército composto por cinco dedos inexperientes e ousados e uma palma encharcada de suor ficou impaciente e armou fogo contra o inimigo, contra esse monstro, numa investida que terminaria numa carnificina sem precedentes. Mas uma voz brada, e meu exército é parado em meio ao ataque:
- NÃO!
- Ah, deixa, vai!
- Não... Primeiro me responde uma pergunta!
- Qual?
- A gente está namorando?
- Hum?
- A gente está namorando?
- Como assim?
- NA-MO-RAN-DO. Estamos?
Supondo que acabando com o suprimento e com a barracaiada do bivaque eu me veria livre de tomar um balaço, esquivei meu exército sorrateiramente para o lado das ancas e tentei abaixar o tecido que protegia o exército inimigo de tempestades e tormentas. Oras, eu não era um bom general:
- Responde primeiro.
- O quê?
- A pergunta.
- Qual pergunta?
- Se a gente está namorando ou não...
- Ai...
- Só vou tirar a calcinha, ou não, depois de ouvir a resposta.
- Tamo!
- Tamo o quê?
- Namorando, ué.
- Estamos namorando?
- Estamos! Tira?
- Pergunta.
- Perguntar o quê, menina?
- Se eu quero namorar com você, ué.
- Você quer namorar comigo?
- Não, não quero.
E tirou a calcinha. Foi assim que ganhei a guerra.
22/04/2010