226 - UMA LEVE IMPRESSÃO...

UMA LEVE IMPRESSÃO...

Sessenta e quatro anos de idade e trinta e oito anos de casado...

Deixara para trás a mulher três filhas, cinco netas, um papagaio um trinca ferro e um periquito. Ninguém poderia empreender aquela viagem no meu lugar.

Aquele sacolejar lembrava-me uma das tantas viagens na Maria Fumaça que era antiga locomotiva da estrada de Ferro Vitória a Minas.

Foto da internet

Um burburinho de vozes e alguns soluços de crianças que

queriam ir juntas... Mas, não dava para levá-las comigo.

Chegou à hora da partida, uma pessoa comentou: - Não precisa chorar é só por alguns dias, logo, logo estaremos juntos!

O balançar às vezes, acentuava a sensação que eu iria cair. Mas, como cair se não tenho a mais vaga ideia de onde eu estava. Devia ser um pesadelo. Ah! É isto mesmo eu não conseguia mover nem pés nem mãos. Se é que se pode chamar de consciência, foram às últimas palavras que eu ouvi.

Era como se estivesse num estado de letargia, certo topor invadia e tomara conta dos meus sentidos, mesmo assim, dava para perceber um trocar de mãos e pessoas ao redor.

Os sons externos chegavam meio abafados bem acima da minha cabeça. Alguém comentou com uma pessoa ao lado: - Está na hora!

Na posição em que me encontrava se conseguisse esticar os braços tocaria numa janela de vidro. Minha alma com pena de mim por fazer aquela viagem solitária, embora houvesse pessoas ao redor... Só que e eu não estava levando ninguém que eu apreciasse e amasse...

No fone de ouvido uma canção dizia:

Eu bato o portão sem fazer alarde

Eu levo a carteira de identidade

Uma saideira, muita saudade

E a leve impressão de que já vou tarde.

O ambiente cada vez mais frio.Tentei mudar de posição. Não consegui...

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 18/03/2011
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