Domingo, perto de casa, tem uma feira livre e é nesse dia que as esposas são enganadas. Vários senhores, com suas respeitáveis panças, sentam-se nos banquinhos da barraca que vende pastel e caldo de cana, e se refestelam. Essa é a barraca que está sempre bombando. Eles saboreiam os pasteis quentinhos com um olhar cheio de prazer. Em verdade comer dá muito prazer. Só uma coisa é melhor: sexo, de preferência quando é feito com alguém com quem se tem uma química maravilhosa. Enquanto isso as barracas que vendem brócolis, chuchu, beterraba e folhas estão cercadas pelas senhoras que vão para casa preparar aquelas comidinhas saudáveis que os maridos barrigudos vão comer só para lhes agradar, já que estão satisfeitíssimos com a guloseima saboreada às escondidas. As pessoas, de um modo geral, acham que as pessoas são gordas porque querem, mas a verdade é que a obesidade é uma doença, um vício como outro qualquer. Ninguém é culpado pela compulsão por comida. Ninguém é culpado por ser viciado em comida ou álcool. As pessoas os olham com desprezo e dizem: que mulher gorda, que coisa horrível! Ou então: olha só esse bêbado, que coisa deprimente. Mas ninguém olha para um cego, um canceroso, um tuberculoso, com esse desprezo. Todos são vítimas da fraqueza, do desespero, da carência afetiva. Outros ainda trazem no DNA esse gene que os aproxima da bebida ou da compulsão por comida. Peço a Deus, todos os dias, para que os cientistas consigam descobrir a maneira de isolar esse gene para que as pessoas se livrem dessas doenças tão terríveis. Infelizmente, no Brasil, a prioridades são outras: carnaval, futebol, olimpíadas, etc. Dinheiro para os cientistas, que tanto estudaram, está escasso.