Seis Graus de Separação.
Lorena de Macedo
Cinco dedos em cada mão. Duas orelhas, um par de olhos e o caminhar tranquilo de quem não precisa se preocupar com o vazamento de radiação de uma usina nuclear atingida por um cataclismo sem precedentes.
Cataclismo. Ao contrário do que muitos pensam a palavra não termina com a, mas seu significado, tão forte quanto à sílaba tônica, nos provoca arrepios funestos.
É intrigante pensar que podemos estar ligados por apenas seis passos. Imaginárias linhas traçadas para provar o quão próximos nos fazemos se tentarmos nos achar.
Criada pelo psicólogo norte-americano Stanley Milgram na década de 1960, a teoria dos seis graus de separação corrobora o velho ditado: O mundo é pequeno, redondo e dá muitas voltas. Tantas voltas quantas forem necessárias para acreditarmos que não estamos sós.
A poeira carregada de material radioativo certamente nos alcançará. O desespero contido nos olhos rasgados que não choram com facilidade pode ser visto, ouvido e sentido no silêncio machadiano que nos abarca a fala, travada na garganta ressequida pelo grito de espanto em resposta às imagens da grande onda.
Por vezes, quando em conversas descontraídas nos valemos de expressões corriqueiras para enaltecer a lonjura de um lugar, usamos o Japão como exemplo. Levante o dedo quem nunca disse algo do tipo “Quer se esconder? Vá para o Japão”.
De acordo com a teoria de Milgram, no mundo, são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas. Seis sorrisos ou menos. Seis endereços para nos levar a uma ruela pitoresca no Marrocos ou a uma casa destruída no nordeste do território nipônico.
Ignorar a situação como se o caos estivesse longe o suficiente para passar despercebido definitivamente não é a solução. Também são nossos os rostos de dolorosas expressões, pois somos todos irmãos no mesmo planeta, cidadãos do mesmo mundo.
Cinco dedos em cada pé. Dois olhos tristes, um par de orelhas e o caminhar truncado de quem precisa aceitar que o eixo da vida está mudando. Dez centrímetros de deslocamento e a Terra continua girando. Redonda, pequena, minúscula ao ponto de nos ligarmos por apenas 6 largos passos.
O Japão não está tão longe, afinal. Ventos gélidos cruzarão oceanos lacrimosos, trazendo consigo moléculas de sofreguidão. E os milhões de olhos rasgados que não choram com facilidade encontrarão abrigo nos corações amigos interligados por apenas seis graus de separação.