BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE ONTEM.
Primeiro as bruxas de pano, feias de doer. Minha mãe era quem fazia a família inteira, pai, mãe , filho ou filha, conforme a encomenda. Havia casamento, batizado, doença e morte...Quando as bruxinhas ficavam muito sujas, adoeciam gravemente, tanto é que o doutor, o nosso pai, dizia que elas estavam desenganadas. E vinha o enterro com toda pompa e circunstancia. Na nossa casa de bonecas, os móveis eram feitos de caixas de fósforos encapadas com papel colorido e as vasilhas eram qualquer tampinha de refrigerante ou de outro vidro qualquer.Tampas de lata também serviam como pratinhos.Lembram de uma medida que vinha dentro das latas de leite em pó Ninho? Eram as nossas panelas. Fazíamos comidinha e convidávamos as “comadres” para um almoço ou um café com bolinhos de terra que a gente fingia comer como se fosse a mais fina iguaria. De vez em quando tomávamos um chocolate de verdade feito com as bagas de alguns pés de cacau que tínhamos no nosso terreno.
Depois, as brincadeiras: Meu Mestre Mandou, Passar o Anel, Bole Bole, Bombaqueiros, Pai Francisco, Lenço Atrás e tantas outras. Brincávamos também de Pira, uma brincadeira de pega –pega, que consistia em fugir do perseguidor. Se fosse apanhado, passava a ser o perseguidor. Corriamos tanto que o cansaço vinha naturalmente. E as brincadeiras de roda? Terezinha de Jesus e os Três Cavalheiros, a Barca de Nossa Senhora...Lembro de todas elas.
E os banhos no igarapé que ficava no terreno dos meus pais? Com aquele calor de trinta graus ou mais, era mais que providencial um banho demorado na água morna do verão. E as excursões pelo mato adentro procurando tesouros inexistentes ou frutas no pé? Subir nas árvores era um esporte e tanto.
Crianças nascidas nas cidades grandes, vivendo em apartamentos, são presenteadas com tantos brinquedos que logo enjoam e querem outros na insaciável sede de consumir. A televisão, com seus programas de lixo cultural vicia essas crianças a ficarem paradas horas e horas diante da telinha. Sem contar com os jogos eletrônicos, outra praga irritante com aquele barulinho toim, toim toim... Pobres crianças privadas do alegre barulhar das interações de gente com gente, de criança com criança. Mas, com já disse alguém, os tempos são outros e modernos. Deixemos que se criem os monstrinhos que só sabem interagir com as máquinas.