O bancario e o pagodeiro

Não, senhores! Não concordo com estas doenças de categoria:

Que o bancario morre hipertenso, babando o nó da gravata, e

o braço esquerdo esquecido;

Nem o pagodeiro de hidropisia, de perna inchada e expelindo

salmoura entre os dedos!

Conheço bancarios felizes que se salvaram: Alguns com uma

ulcera duodenal, outros uma prisão de ventre crônica.

Ninguem passa por aqui impunemente!

Conhecí as suas alegrias nos anos 70, bem remunerados e

cheios de sonhos.

Participei das suas agonias nos anos 80: Salarios ruins,

demissões, e o não sonhar nos olhos.

Caminhei à frente das suas manifestações por um sistema

justo. Orgulhosamente me fazia de "porta estandarte", com

a minha bandeira vermelha, e a foice e o martelo.

Tempos belíssimos para sonhar, ainda existiam sonhos mesmo

de bolso vazio.

Esta classe empobrecida, que ja não acredita em tempos de

prosperidade como outrora, se deixou contaminar por outras

doenças: O pessimismo que leva ao desencanto, o desencanto

que deságua no desespero: O desespero faz o resto!

Na verdade, existe uma relação perversa entre o banco e o

bancario:

Imaginem a quantia soberba, sim, soberba, que os bancos

movimentam diariamente.

Entra dinheiro alí, foge o dinheiro aquí, dinheiro girando

pelo Brasil, pelas Ilhas Moças, os Paraísos Tropicais, para

o banco de Oklahoma, até para Guiné Bissau - Roma, Ásia e

Oceania - e não podia faltar Kansas City.

Que quantidade descomunal de riquezas são alí manipuladas

por nossos bancarios atônitos.

Os caixas manipulam o dinheiro alí, "in natura", milhões de

cédulas fresquinhas, perfumadas. Me imagino no lugar de um

deles, passando e repassando tesouros, ajudando a aumentar

fortunas, e no final do mês, aquela "graninha" curta, suada, ordinaria - ordinaria mas suada - Respeitemos! Dá um complexo de "menos valia", uma ansiedade, uma

"desistencia emocional", uma vontade de ir se afundando...

afundando... até diluir-se no nada!

Morre-se tambem por desencanto!

Temos que falar um pouco sobre os nossos irmãos pagodeiros,

porque os nossos filósofos sociais, indicam para estes

artistas populares, a perna inchada, (porque o baço foi

congestionado), o fígado opilado, e o estado geral

irreconciliável; aliaz, este é o estado da doença que leva

ao "delirium mortis", apos um periodo de "delirium tremens"

Perdi um amigo nestas circunstancias: Se sentava em um

banquinho, ficava tocando um "sete cordas" e tomava "mil".

Uma noite ele travou. Não conseguia mijar. O ventre ganhou

volume e tivemos que preparar agua bem morna, e a sorte é

que havia uma bacia. Sentamos ele na bacia com agua bem

morna, relaxou após algum tempo e depois ficou meia hora

mijando sem parar. O organismo ja estava começando a travar

os rins tinham chegado à exaustão. Durou pouco tempo este

meu amigo: Todo dia era uma "punção" para retirada de

liquido acumulado no organismo. "Desenlaçou". "Deus te

abençoe Zeca Barrigudinho" que Brama o guarde em seu seio

misericordioso!

Concordo que alguns morrem "Hidropes"

É que eles costumam fichar em um boteco ordinario, tomando

todo dia a mesma cachaça desdobrada, e o torresmo engordurado - tem gente que não sabe fritar o torresmo a

"pururuca", fica inchado de banha - o que mata é o torresmo

na proporção de 50%, e o restante por conta da cachaça

adulterada.

Tem que mudar de vez em quando de butiquim. Faz bem à saude

ou menos mal. Consegue-se prolongar as agonias da vida.

O fato é que de alguma coisa se morre. Alguma doença

particular nos atormenta!

Um dos piores males dos nossos dias é a depressão. Nunca ví

pagodeiro com depressão.

Ela nunca está no lugar onde chega a alegria!

Dedicado aos meus irmãos bancários,

multiplicadores da fortuna alheia,

e aos pagodeiros do Brasil,

Que só dão alegria, que é namorada da felicidade:

Inimiga mortal da depressão!