VOVÔ BEBETO, TOMÁS E A CATRACA
Ia eu levando o Tomás para a sua aula de natação na piscina a um quarteirão lá de casa, numa tarde gostosa de sol, trégua dada pela chuvinha que vem caindo constantemente aqui em Belô, quando passamos na esquina da farmácia e o Carlão, o “Segurança”, mexeu com ele:-
“- E aí, lourinho, já vai nadar? E o vovô? Ele pula n’água também com você? ...”
“- Não, véio! O meu avô não sabe nadar. Ele só fica me olhando, tá? ...” – responde na lata o meu neto, com aquele seu jeito decidido.
Chegando à academia topo com uma catraca instalada logo no início da escada que leva à piscina, alguns metros acima, novidade pra mim. A Delviva, a empregada que trazia o Tomás para a natação, estava de folga e lembrei-me que ela havia me fornecido a senha para o acesso, num papelzinho guardado na carteira. Puxei o papelucho e li “9514”. Digitei o número, dei “enter” e empurrei com a barriga mas a catraca não destravou. Tentei uma, duas, três vezes e nada! ... O Tomás, logo atrás, encostadinho em mim olhava curioso, percebendo o meu nervosismo.
Olhei para a “Recepção” e a secretária atendia um casal que matriculava uma criança na academia, girei o corpo e não percebi ninguém que pudesse socorrer-me. Então decidi, dizendo aos meus botões:-
“- Que se dane, ninguém tá vendo, eu vou passar! ...” – pois notei que a abertura por baixo da catraca era grande e eu, magro, delgado, com apenas meus 56 quilinhos, passaria sem dificuldades pelo obstáculo.
Empurrei o Tomás um pouquinho para trás, abaixei-me e transpus a catraca por baixo, numa boa. Só que, nem bem eu tinha me levantado do outro lado, ouvi um grito estrondoso do Tomás, todo ouriçado, dirigido à recepcionista:-
“- OLHA MOÇA, OLHA O VÉIO PASSANDO POR BAIXO DA CATRACA, OLHA ELE ! ...” – e gargalhava estrepitosamente.
Ergui-me do outro lado e falei sério com o Tomás, o qual se esbaldava com a cena inusitada:-
“- Tomás passa você também! Eu não vou ficar aqui pagando mico, tá certo? ...” – e não esperei mais, subindo as escadas em direção à piscina onde a professora Tatiane e dois coleguinhas dele já aguardavam para o início da aula.
Na volta a casa contei o caso pra minha mulher que riu demais da conta, tanto do meu aperto como da malícia do seu neto caçula. Aí ela se lembrou que a Delviva tinha lhe dado o número da senha da catraca, foi e lá e conferiu:- “9415”, parecido mas não exatamente igual ao número que me deram.
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B.Hte., 17/03/11