Um banho de chuva na rua

Semana passada, aqui estava um toró de chuva...

Na hora do almoço, saio correndo entre marquises, me desvencilhando das bicas dos telhados.

Na rua onde tinha de atravessar, uma lagoa. Só faltavam peixes. Comparo-a com meu salto. Vai sobrar lagoa, estou pressentindo. Poxa...

E quando estou ali aquecendo para saltar, eis que aparece uma caminhonete Chevrolet cabine dupla, cor prata, a aproximadamente uns 60 km de velocidade. Se não fosse trágico, era bonito. Ela levantava uma cortina de água interessante, de dar inveja nas mais criativas fontes.

Claro, passou perto de mim. Só esqueceu algumas coisas básicas: sabonete, toalha, cabides para botar a roupa, chinelo. Sim, porque o banho foi completo. Absoluto, certeiro.

Passou, foi embora, nem esperou pelo agradecimento.

Quando me dei por mim, não conseguia enxergar direito, meus óculos estavam também cheios de água.

Fiz uma rápida análise de tudo. Ia xingar ele e todas suas gerações. Mas desisti, vi que não ia resolver, ele não iria ouvir mesmo. Me resignei, e aceitei de bom grado a minha condição de “molhado feito um pinto”, como dizem.

Cheguei de volta ao trabalho, me sequei o quanto possível, botei os fones de ouvido e fui ouvir Dom e Ravel: "Este ano, quero paz no meu coração..."

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 17/03/2011
Reeditado em 17/03/2011
Código do texto: T2853794
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