“ESTOU FARTO DO LIRISMO COMEDIDO”
 


Confesso que tenho cá as minhas idéias anarquistas, mas responsáveis, levando-se em consideração os princípios doutrinais poéticos, sociais e culturais. Este pensamento me leva a primeira fase do Modernismo brasileiro e algumas de suas conquistas, entre elas a liberdade de expressão, coloquialismo e cotidianismos (esta última dando margem a criação do gênero crônica, tão de nosso gosto.). Quanto a liberdade de expressão significou no triunfo de uma concepção inteiramente libertária da criação artística, permitindo que o artista em todas as suas formas, não precisasse se guiar por outras leis que não a própria interioridade e de seu próprio arbítrio, é como se o pintor passasse a não pintar o real, mas sim  a sua interpretação do real., (Picasso que o diga) No campo da literatura quem externou através de um manifesto essa nova postura, foi Manuel Bandeira, com a sua “Poética”, onde assim se expressou:


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
         (protocolo e manifestações de apreço do Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
        (cunho vernáculo de um vocábulo)
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxe de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Assim, graças ao Modernismo o cotidiano teve a sua valorização, a arte sofre uma abertura, deixando de ter vez apenas  “assuntos sublimes” no mundo literário, o artista descobre o folclórico , o popular, o prosaico e toma consciência de que todos os objetos podem se tornar literários.

Por enquanto, é com esse quadro que convivemos hoje.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 17/03/2011
Reeditado em 19/03/2011
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