Filme na chuva

Lindonéia procura se alindar e é feia porque maquiagem tem limite. O bastardo chocolateiro histrião sempre longe do foco nas cenas abertas possuí uma vaga ideia de Olavo no papel de Pederneiras. Caminhando e fumando pela beira do mar com neblina cerrada. Neblina que chegava a ter fios grossos, quase borrasca na tentativa de efeito místico.

Levaram dois anos montando uma única cena: um débil vagabundo fumando na borrasca em plena beira de mar. “Um filme na chuva” era o título que não pegou devido à mente de camarão do Diretor que preferia o pior para o mundo criativo. Grande cineasta para papelões insignificantes, mesmo com Olavo entreouvindo a pleura da máquina caseira produtora de ventania, gemendo de modo imitativo. Filmes na invernia custam caro à saúde do elenco e nem sei como conseguiram atingir o final inesperado. Olavo com mãos de cigarro acariciava a enojada Bernardete na frente de Lindonéia, coando café, porque naquele tempo, artista fumava muito, bebia para parecer sério como Bogart.

Levaram dois anos montando uma única cena do débil vagabundo fumando na neblina em torno do caís tencionando que a sombra produzisse efeito délfico nas imaginações inconsistentes. São esses filmes de academia do parque destinado ao Prêmio Nobilitas na cidade do uísque. Películas umedecidas pelo hálito frio do toró recaindo sobre criaturas fantasiadas retornando do trabalho em meio ao caos das águas rolando pelas calçadas.

Que dê o nome que quiser aos seus filmes, gritei ao elenco paralisado Esta porcaria perderá para qualquer melodia estúpida no festival. Quem haverá de gastar um real para assisti-lo? Fica-se dez minutos no cinema e adeus. Numa certa pausa da filmagem Laura resolveu subir num cavalo, e ao contrário de andar permaneceu saltitando com uma perna só presa no estribo. Verdadeiramente a única cena boa disposta a rara naturalidade das luzes. Sentado no camarim recordava o velho Cine Teatro. Diante do espelho revia o menino ansioso pelo cartaz no poste da calçada em frente ao Chicos Bar. No fundo, a sorte era que o bar acabava melhor que o filme para as paixões de cinema.

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 16/03/2011
Reeditado em 22/06/2020
Código do texto: T2852324
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.