Joãozinho – o homem menino
Neste texto que agora começo escrevendo tomei em consideração a vida de uma personagem que me é muito familiar, o Joãozinho, com cara de menino ele passa o tempo dizendo verdades, mas que aos olhos dos outros parecem mentiras.
Já em criança sua sinceridade era colocada á prova, ele não era capaz de segurar um segredo, os tempos passaram, os segredos aumentaram, mas sua língua sempre fala o que não devia. Há alturas que dá vontade de dizer - Joãozinho fica caladinho – mas ele não, ele fala aquilo que sente, aquilo que não sente - é um verdadeiro poliglota de verdades. Como amigo dele sempre tento perceber o que o move a viver de forma tão diferente dos da sua geração, mas ele se esconde como um caracol dentro de sua carapaça, me evita sempre que o assunto o constrange, e quando assim é, eu desvio o tom da conversa, dou-lhe um sorriso, digo duas ou três piadas, a carapaça amolece, e ele fala - eu sou tímido - mas sua timidez é tão doce, parece um adulto vestido de criança, que continua guardando sua pureza para a mulher dos seus sonhos.
Falam-me ao ouvido que ele já teve amores, eu me espanto com isso, mas logo ele me diz que nunca em sua vida teve contato com uma mulher de carne e osso, a única coisa que sabe é que as ama do fundo do seu coração e que tem vivido sua vida de amores platônicos. O que o incomoda é sua falta de mestria para lidar com elas. Sempre que tenta uma aproximação, o faz da forma mais incomum que alguém possa esperar. Ele é tão irreal, tão apressado, impaciente, uma doninha em busca do seu espaço.
Ah Joãozinho, se eu pudesse te ajudar nesse sentido, podes ter a certeza que o faria, o faria neste preciso instante, mas também eu comungo muito dessa forma atabalhoada de lidar com as mulheres. Somos dois seres muito parecidos, que vivemos em casulos feitos à nossa medida, e na esperança que uma mulher, quiçá uma mulher menina veja em nós aquilo que ninguém vê. O mundo está cego, ou então não quer enxergar nossa natureza tão pura, tão rica em sentimentos verdadeiros.
Dona Zuleica, sua mãe, diz que na adolescência Joãozinho passava o tempo agarrado a livros e estudando as matérias da escola; na escola aprendeu a ser líder, e hoje, está aprendendo a viver. A conviver aos poucos com aquilo que mais o atrai: as mulheres. Sempre são elas que o movem, que lhe dão o gosto terrível da felicidade, gosto esse que é tão curto, que nem chega para afagar sua solidão.