OS BEM-TE-VIS

Aqui no sul do mundo, em Passárgada, Passo de Torres, no viçoso campinho de defronte à janela, um bem-te-vi solapa os meus ouvidos com seu estridente canto, como se dissesse, aqui estou eu, a natureza alada do canto!

Observando o bem-te-vi, o aprendiz cochicha solilóquios em prosa e verso, denunciando-se vivaz, operoso, atento a algum soluçar.

A humana criatura nasceu não somente para estar no mundo, mas lhes afianço, pra conviver e transacionar sensações, se não ainda estaria na idade da pedra, arranhando a caverna. Hosanas à vida, que nos permite o milagre dos beberes e sentires diários!

A eterna Poesia é o canto gutural do fundo do ser e nem todos têm ouvidos para o canto do pássaro-homem.

Ah, voejai no prazeroso canto de estar com alguém que também está apreendendo os mistérios da visceral linguagem! Paro por aqui, porque minhas asas são similares às de Ícaro e o sol queima a esperança do convívio.

Desejo estar sempre alerta pra tentar consumir-me na tessitura da Palavra, mormente quando à distância do interlocutor. O escrito é plasma vivificador. Há um novo bem-te-vi dentro de mim.

É o amoroso canto da comunicação verbal que nos delata como pássaros.

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2022.

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