Vamos a pé pro Morumbi
O meu tio Brás O. Oliveira, de saudosa memória, em vida, era torcedor do São Paulo FC, e não perdia uma partida de futebol. Ouvindo a transmissão pelo rádio, depois TV, e quando era possível no Estádio Municipal do Pacaembu.
Por influência dele, eu, Tangerynus, os manos Rubens, Ademir, Antonio e a maninha Neuza Maria, tornamo-nos todos torcedores do tricolor paulista. Pelo fato de ele viver falando sobre o São Paulo FC, acabei decorando uma das escalações da época, cuja formação era: Poy, De Sordi e Mauro - Pé de Valsa, Bauer e Alfredo - Maurinho, Albeja, Gino - Negri e Teixeirinha.
O São Paulo Futebol Clube tinha vendido as instalações localizadas no bairro do Canindé, para a Associação Portuguesa de Desportos. Aliás, nessa época o irmão de minha mãe, o Tio Leonildo Tangerino, chegou a treinar no São Paulo F.C. tentando a sorte, mas acabou sendo jogador do Juvenil Flor da Vila FC-Vila Carioca-Ipiranga-SP. Nesses tempos já estava em andamento a construção do Estádio no bairro do Morumbi. Isto é, uma parte considerável já estava pronta, tais como, o gramado (campo de futebol) e outras instalações.
A cidade de São Paulo comemorava no dia 25 de Janeiro de 1957, 403 anos, aniversário de fundação, e o São Paulo FC, nesse mesmo dia, inauguraria o seu novo gramado, com uma partida amistosa entre as Seleções de Veteranos: Paulistas x Cariocas, até hoje não sei o resultado do jogo, porque tivemos que voltar para casa mais cedo.
Dias antes, ficou combinado entre nós três que se não chovesse íamos a pé conhecer o Morumbi.
E assim foi, levantamos bem cedinho, tomamos o tradicional café com leite, pão com manteiga e pra reforçar degustamos também uns ovos fritos.
Saímos da nossa casa, localizada na Rua Albino de Moraes, 114 - Vila Carioca - Ipiranga, e fomos caminhando a pé, vários bairros foram ficando para trás. Passamos pelo Museu do Ipiranga, Cambuci, Ibirapuera, Cidade Jardim, contornamos pela esquerda as instalações do Jóquei Clube e fomos nós até chegar ao destino, que era o Morumbi.
Bairro do Morumbi, bairro esse onde na época não havia uma casa sequer, mas as suas ruas eram todas asfaltadas, e só havia a construção do futuro Estádio Cícero Pompeu de Toledo, pertencente ao São Paulo FC.
Encontrávamos pelo caminho várias espécies de animais silvestres, como gambá, lagartos, cobras.
Foram cinco horas caminhando a pé, e chegando lá, ficamos impressionados com o tamanho da obra, por sinal achávamos algo gigantesco, até então nunca tínhamos visto algo parecido.
Ufa! Caramba! Depois de tanto caminhar, a barriga roncava de fome e também de sede. Andando pelas instalações, sentimos um cheiro de churrasco no ar, e pra lá fomos nós três. Não recordo o preço, só sei dizer que era salgado, mas como não havia alternativa, pedimos um churrasco para cada um e mais três refrigerantes. Os parceiros de caminhada não fumavam e nem bebiam bebidas alcoólicas.
Com o estômago calçado, fomos assistir ao jogo amistoso, em pé, pois ainda não tinham sido construídas a geral e a arquibancada.
Jogo iniciado, o tempo passou, assistimos o 1º tempo, mas como o tio Brás e o seu Adão teriam que trabalhar no dia seguinte, resolvemos regressar, isto porque a distância era muito longa. Pra mim não tinha problema, estava curtindo férias escolares.
Voltamos a pé até o ponto do ônibus elétrico que fazia a linha Praça do Patriarca/Cidade Jardim e vice versa. Entramos no ônibus, por sorte viemos os três sentados. Posteriormente tomamos o Bonde Fábrica, sentados novamente, destino Sacomã, e do Sacomã, com mais meia hora de caminhada chegamos aos nossos lares.
Depois dessa caminhada, fiquei sem poder usar os sapatos durante uns quinze dias. Mas valeu a pena passar por essa aventura maluca. Enfim, ficamos conhecendo de perto o maior estádio particular do Brasil.