A chuva, a fome, a pinga e a morte ignóbil.

Aumento o volume do som para abafar os trovões.

A chuva cai violentamente há quase meia hora. Por incrível que pareça, Riders on the storn, dos The Doors, toca na rádio.

O noticiário relata que a chuva abafou os gritos e lamentos das crianças famintas nas favelas cariocas. Assim mães e pais desidiosos beberam com mais tranqüilidade a “marvada” cachaça, comprada “fiado” na venda do Seu Alceu.

Uma criança, tentando saltar uma poça dágua, escorrega e racha a cabeça na sarjeta; morre ali mesmo, e só a encontram quando a última gota caiu goela abaixo. Não restou sangue, levado pelas enxurradas. Estava mais pálida que uma boneca de plástico barata, dessas encontradas nas mercearias do interior do nordeste, sem roupas, penduradas no teto.

Relâmpagos clareavam o horror e as obturações dos dentes podres dos ébrios pais inconseqüentes.

Ninguém deu conta, era apenas mais uma tola criança que não se atentou para as catástrofes da natureza, cochichavam outros torpes bêbados das proximidades...

“A ignorância combinada com álcool mata mais que qualquer tempestade...”, disse o Sr. Delegado...

“E nada mais podemos fazer!”.

“Chamem o rabecão!”.

Savok Onaitsirk, 15.03.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 15/03/2011
Código do texto: T2850244
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