Não gosto desses eufemismos piedosos que andam inventando para os idosos:terceira idade,melhor idade e outras baboseiras.
Idade é idade,velhice é velhice,faz parte do ciclo da vida e não precisa ser aturada ou suportada.Tem mais é que ser vivida,respeitando-se as limitações que traz.
Cada vez mais vejo setentonas e até oitentonas superfelizes saindo de cinemas,teatros ou fazendo um passeio socrático pelo shopping.
Nada que lembre reclusão ou opressão ou mesmo,desgosto pela chegada do Inverno das nossas vidas.
Mas,tenho visto,sim,infelizmente,muitas mulheres jovens,de pele lisa e cintura fina ,com um tremendo ar de infelicidade.
E fico me perguntando o porquê.
A juventude é muito cobrada e exigida hoje,é quase uma bandeira pesada a se carregar para muitas que fazem da juventude,profissão.
Carreira,trabalho,filhos,família,sucesso,orgasmos,aparência,tudo é cobrado.
As mulheres vivem sentadas num paiol de pólvora para usar um clichê conhecido,já que brasileiro adora clichês.
As mulheres queimaram soutiens,conseguiram a liberdade,são (quase) completamente donas do seu corpo,mas,não estão felizes.Nem se sentem realizadas.
A competição é muita,a cobrança exagerada.
As mulheres antigas,como eu e minhas contemporâneas,que esquentavam a barriga no fogão e esfriavam no tanque,que eram dependentes de seus maridos,que não podiam aspirar uma profissão que não fosse professora ou enfermeira,,que eram tão resignadas,coitadinhas e tinham medo de tudo,desde uma gravidez indesejada até a língua da vizinha,estas,parecem hoje tão bem resolvidas!
Porque?!
Andei perguntando às amigas da minha geração,marquei um almoço num bom restaurante e abri bem os ouvidos.Sabia de mim,mas,queria saber das outras.
Descobri uma alarmante coincidência.Eram todas viúvas,exceto eu,claro.
Tinham duas ou mais pensões,casa própria,filhos criados, e muita liberdade para gozar os anos que lhes restavam.E,que,a ciência se desdobrava em fazer durar cada vez mais.
Observe os obituários dos jornais. Mulheres com mais de noventa anos e até centenárias são as maiores freqüentadoras.Estamos vivendo mais,sim,e melhor,sem medo de Herr Alzheimer ou do Sr.Parkinson, devidamente controlado pelos laboratórios.
Elas saem sem hora para chegar,viajam sem data determinada para voltar,a não ser,claro,as limitações financeiras;não têm ninguém para cuidar e ninguém para criticá-las.
Todas tinham enterrado e chorado seus companheiros e depois disto colocado o pé na estrada.Sem lenço – tão usado nas horas de frustração - e,apenas,alguns documentos.Nunca sem os travellers checks!
Freqüentavam academias e cirurgiões plásticos,aplicavam botox,sem nenhum constrangimento.
Poucas adotavam o branco nos cabelos e algumas criticavam os meus.Viraram louras,mas,não as louras burras dos clichês sem graça.
Liam,iam às bibliotecas e aos museus,sem nenhum medo de que não as deixassem sair.
Estavam a anos – luz de suas mães ou avós.Todas se davam bem com as noras o que confirma a minha tese de que sogra tarasca é a mulher mal amada e mal trepada de ontem,que não consegue conviver com a felicidade alheia que ela nunca experimentou.
Inteiraças,bem vestidas e maquiadas sem exagero –estou falando de mulheres ,não de caricaturas – quando lhes perguntei se sentiam falta de um companheiro ou se casariam de novo,todas foram enfáticas em soltar um sonoro NÃO.
Algumas foram além:
-Deus me livre!
Isso me deu a certeza de que ,se algumas não foram esposas fiéis,pelo menos seriam viúvas fidelíssimas.
Nenhuma falava mal do marido ‘era um bom homem” “bom pai” “respeitador” etc.Só.Nenhuma puxou o lenço ou falou de saudades.
As mais jovens deveriam ouvir a sabedoria das mais idosas,lembrar que a vida é breve e vã e o doce pássaro da juventude não esquenta lugar.
Cuide da sua felicidade,não admita cobranças,faça o que lhe der na telha.
Esse me parece ser o segredo da felicidade.
E,sobretudo ,não espere os oitenta para ser feliz!