MARISA
"MARISA"
Quando eu a conheci, ela já estava com a saúde bastante debilitada, aos seus quarenta e poucos anos, passava grande parte da sua vida ao lado de uma máquina que fazia a função que seus rins já não mais podiam fazer. Não foi difícil ter por ela sentimentos bons, ela transmitia muita paz, dona de um sorriso meigo, corpo frágil, olhos tristes, uma doce criatura, marcada pelo sofrimento. Lembro-me como se fosse hoje, quando numa festa de confraternização de final de ano, eu com a função de servir os refrigerantes me vi completamente sem ação quando Marisa veio me pedir mais um copo, sabendo bem de seu problema de saúde, olhei para ela com piedade e falei que ela não podia tomar outro, ela sorriu e falou com doçura que queria só mais um pouquinho, neste instante me senti muito mal, porque eu costumava evitar refrigerantes por causa das calorias e ela tinha que evitar por causa de sua doença. Acabei cedendo e servindo mais um pouco, ela agradeceu com um sorriso e foi se sentar. Tive um misto de sentimentos por esta atitude, porque ao fazer a sua vontade, sabia que excessos não eram bons pra sua saúde tão frágil, mas como resistir a aquele pedido.
Sempre me encontrava com Marisa, ela falava pouco, mas sorria muito, sempre me encantando. Um dia sua irmã me disse que iria levá-la para Curitiba, buscar um tratamento mais intensivo para ela, pois seu estado de saúde piorava a cada dia.
Passaram-se alguns dias desde sua ida para Curitiba e minha irmã que era enfermeira na clinica de hemodiálise onde Marisa fazia seu tratamento, chegou a minha casa tendo nas mãos um vasinho de violetas, disse que ela tinha deixado lá para as enfermeiras cuidarem, mas ela resolveu trazer para mim, aceitei sem muito entusiasmo porque embora gostasse muito de violetas, não sabia direito como cuidar delas que acabavam morrendo sempre, deixei-a num canto de minha lavanderia e uma vez por semana a regava.
Não demorou muito e recebemos a noticia de que Marisa tinha falecido, fiquei muito triste, ela gostava muito da vida e lutava bravamente por ela. Passaram-se alguns dias e eu pude observar que a violeta que era dela também tinha morrido, as folhas caíram e seu caule parecia estar completamente seco, peguei o vaso para jogar no lixo, mas me contive pensando em Marisa, só então pude ver que o caule ainda estava macio, parecia ainda ter vida, levei para um lugar bem arejado, coloquei água sempre pensando nas limitações de Marisa e com carinho passei a cuidar desta pequena flor. Não demorou muito pra eu ver o resultado dos meus cuidados, logo surgiram brotos e mais um pouco de tempo as folhas ficaram verdejantes e surgiram as primeiras flores, violetas delicadas e sensíveis como Marisa, um misto de cores roxa e lilás.
Já faz cinco anos que minha amiga se foi, já faz cinco anos que esta plantinha esta comigo e foram poucas as vezes que a vi sem flores, um lindo vasinho que ocupa um lugar de destaque em minha casa, há quem chega ate a tocar em suas folhas, pra conferir se não é uma planta artificial. Tenho a sensação de que naquela flor tem um pouco ou muito de Marisa. A esta flor foi dado o nome de violeta, mas eu a chamo carinhosamente de Marisa.
Rosana de Pádua