CONVIVENDO COM OS SISMOS
Acompanhando as notícias e olhando as imagens que mostram a devastação e a destruição do Japão, infelizmente, me faz pensar o quanto isso representa somente a ponta desse Iceberg. As conseqüências imediatas de um terremoto são um tema obvio e visível: perdas humanas e materiais. Mas com o passar dos dias, quando a prensa internacional já não lhes dê tanta manchete , (buscando outras desgraças para reportar), os japoneses estarão passando pela fase mais crítica, mais dura e mais cruel.
Com a destruição das casas, famílias e famílias se veem obrigadas e recorrerem aos acampamentos improvisados e isso pode durar muitos meses. Ao estarem expostos a intempérie, começam os problemas de saúde de caráter respiratório, principalmente nos adultos maiores e nas crianças.
Poder alimentar-se, como um ato natural de sobrevivência, faz com que as pessoas entrem em estado de desespero. Nesse momento, não serve de nada ter a conta bancária forrada em dinheiro e ter o melhor cartão de crédito porque não há onde comprar comida.
Muitos países acabam colaborando com Hospitais Móveis usados pelas forças armadas, os chamados Hospitais de Campanha. Acabam sendo a única opção para resgatar os feridos e operar aqueles que apresentam doenças mais graves. O sistema de saúde entra num verdadeiro caos. Muitas pessoas falecem não a causa direta do terremoto, mas de maneira indireta, porque o sistema de saúde não pode atender-lhes como corresponde. Pensemos nas pessoas que possuem doenças crônicas, que necessitam de atenção médica e medicamentos em caráter permanente (como exemplo as pessoas que dependem da diálise) e na realidade atual, não poderão ser atendidas.
Em algumas semanas, começam as epidemias a causa da contaminação do solo e da água.
O sistema educacional se colapsa: dada a perda dos estabelecimentos, o ano escolar se transforma numa sorte de improvisação, e na verdade as escolas se transformam em albergues.
A população, de uma maneira generalizada, entra num estado de tristeza coletiva. As pessoas passam a ter um ano com maiores incidências de depressão pós-terremoto e tsunami.
É um assunto bastante indigesto para ser comentado, mas é uma realidade: os familiares, na grande maioria, não podem recuperar seus seres queridos para realizarem suas manifestações espirituais e prover-lhes uma sepultura. Emocionalmente ficam colapsados e é necessário a intervenção de psicólogos e psiquiatras.
Os grandes cientistas, apesar de todo o avanço tecnológico, ainda não foram capazes de inventar instrumentos que possam medir os movimentos das placas tectônicas com antecedência, ou seja, dentro de um tempo prudente que se possa alertar a população. Os aparelhos de medição existem, e estão todos conectados entre nossos países que possuem características sísmicas, mas ninguém pode fazer nada em 20 minutos.
Eu não sou capaz de prever o futuro e gostaria que nada disso sucedesse naquele país, mas infelizmente, em fevereiro de 2010, Chile também foi massacrado por um terremoto, e até hoje como país, estamos em nosso processo de recuperação.
Lendo um texto de um Recantista, um senhor de mais de 70 anos, observei que em suas palavras numa poesia refletiam um sentimento de tristeza por acreditar que a juventude não valoriza os conhecimentos do adulto maior. Tomando esse ponto de vista, eu gostaria de mencionar que no caso do terremoto ocorrido no Chile, muitas pessoas se salvaram somente porque foram orientadas pelos mais velhos que tinham mais experiência quanto às manifestações da natureza.
Aquele pescador que cresceu no mar, ao observar as reações diferentes nas ondas, pôde salvar a si e seus familiares. Aquele campesino que observou a atitude dos animais (*) pôde salvar a si e seus familiares.
Numa situação catastrófica como essa, ser jovem e ter na parede um diploma pendurado não é garantia de sobrevivência.
(*) A natureza é harmônica e perfeita. Quando as placas subterrâneas começam a mover-se, a princípio, o som que se emite é imperceptível ao ouvido humano. Somente depois é que se transforma num ruído parecido a chegada de um trem. Os animais si som capazes de escutar esse "silencioso tremor da terra” e a primeira coisa que fazem é colocar-se agitados e no caso dos silvestres, espontaneamente fogem para as partes altas. No terremoto de 2010 aqui no Chile, dois minutos antes, todos os cachorros e gatos da vizinhança começam a alertar-nos de que algo grande chegaria.