A arte de contar histórias

Dizem que antes de falar, os brasileiros preferem cantar. Por isso o florescimento de tantos poetas. Mas na nossa cultura também tem lugar o contador de histórias, pessoas que são mestras na arte de nutrir a imaginação e fazer a ponte entre os diferentes universos culturais.

Uma delas é D’oci, doce criatura que conheci no Ponto de Cultura Escola Viva Olho do Tempo, do vale do Gramame em João Pessoa, entidade com a missão de oferecer instrumentos aos moradores daquela comunidade em prol do desenvolvimento comunitário sustentável, “fortalecendo o ser humano na sua caminhada de auto-conhecimento e consequente descoberta e aplicação de suas potencialidades”, conforme consta no site da Escola.

Mestra D’oci é griô. O que significa griô? É a pessoa que guarda a tradição oral de um povo. Ela conta histórias dos povos de sua etnia e de sua região. Além da vivência afetiva e cultural, um contador de histórias deve ter carisma. D’oci é uma artista original e digna de atenção. A Câmara de Vereadores de João Pessoa aprovou título de Cidadania Honorária para a Mestra D’oci em 10 de agosto do ano passado.

Poderia ser uma escola como outra qualquer. Porém, a Escola Viva Olho do Tempo traz algo diferente em sua forma de educar as crianças. Entre as disciplinas do currículo escolar, os alunos têm um tempo reservado para o aprendizado da cultura popular brasileira, através de manifestações da tradição oral. Este trabalho é realizado pela Mestra D’oci. Eu disse a ela que também sou um contador de histórias de minha gente, que na minha aldeia tem um conjunto rico de personagens, cenários e problemas dos mais característicos. É certo que estou longe de ser um mestre griô, mas fofoqueiro eu garanto que sou. Ela adorou receber meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”. Disse que vai ler e, quem sabe, aproveitar algum material para suas histórias cheias de potência telúrica e perplexidade humana.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 15/03/2011
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