MEMÓRIAS DE UMA INTERNA - V
A imaginação fértil povoava a cabecinha daquelas meninas, confinadas entre muros altos e intransponíveis. A curiosidade corria solta no que se referia às freiras. Duas coisas nos despertavam especial interesse: os aposentos secretos, totalmente vedados ao nosso acesso, e as roupas íntimas das freiras, das quais só conhecíamos a cara e as mãos, uma vez que o hábito preto cobria o restante. Pareciam urubus ambulantes e a monotonia do preto só era quebrada por um peitilho branco e uma faixa que contornava o rosto. Um dia furamos o bloqueio. Nos distribuímos em locais estratégicos e, nos revesando, conseguimos invadir o dormitório delas. Decepção! Nada de sobrenatural! Mas fomos premiadas com uma descoberta sensacional: a máquina de fazer hóstias! Dali em diante, sempre que o caminho estava livre, adentrávamos a salinha e comíamos os retalhos e até as hóstias prontas. Viramos umas verdadeiras papa-hóstias! Creio que Deus nos perdoou, pois ainda não estavam bentas! Outro dia esqueceram aberto o portão da lavanderia, penetramos num pátio e lá estavam calçoilas e sutiãs imensos, estendidos num varal. Foi uma fofoca só no internato!
Curiosidade saciada, a coisa perdeu a graça...
(CONTINUA)