O dia que sai de casa.
Um dia sai de casa, é sai de casa! Mas não de vez. Sai apenas para ver a chuva, pois havia sentido seu perfume que invadiu meu quarto naquela tarde. Sabe como é? Aquele cheiro molhado com um perfume único e exclusivo. Acho que não há nada igual aquele cheiro.
Sai até o portão e vi que as gotas caiam ainda bem espaçadas, mas eram gotas enormes dava para ouvir o som quando batiam no chão, sons espalhados que iam ganhando velocidade e ritmo, era musicas para meus ouvidos, uma gota aqui outra lá e outra la e outra e outra ate que se formou um som único, gostoso e relaxante assim como aquele perfume que a chuva traz.
Não havia mais nada ao meu redor, nem mesmo o som de minha avó me gritando para pegar as roupas do varal fazia sentido, quando vi o seu vulto correndo para varal para tirar as roupas já encharcadas era como se ela e tudo ao redor estivesse em câmera lenta, via através do canto dos meus olhos pois estavam vidrados na rua já toda molhada.
Eu estava de camisa tipo Hering branca com listras de uma variação de tons avermelhados, schorts vermelhinho curto, bem diferente das bermudas que com tempo passaria a usar, e no pé, á no pé, lá estava meu inseparável kichute, com seus cravos já bem gastos e sua ponteira surrada de tanto chutar as pedras,latas,potes e o que mais eu encontrasse em meu caminho.
No joelho um machucado antigo que não sarava, pois eu sempre arrancava a casca, mas já estava bem melhor depois de eu ter ido ao doutor Rock, bem Rock era o nosso de nosso cão, eu havia ouvido alguém falar que era bom que o cachorro lambesse os machucados e que era assim que eles se curavam, então fui até o Dr. Rock e ele mais que de pressa tratou de me dar uma bela lambida no joelho, foi um bom tratamento, nem doeu nem nada.
Nesse dia sai de casa disposto a quebrar algumas regras, sei que não premeditei nada até porque, nem sabia o que isso significava.
Havia passado apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para eu me decidir. Sai em dispara em direção a maior poça d’água que eu havia visto na rua, meu coração estava disparado e em meu corpo sentia uma energia que explodia a cada pulo dado na poça, sego e embriagado de euforia tomado pelo cheiro pelo som e agora pela sensação mágica daquele momento notei que não estava só, e tão eufórico quanto eu lá estava o Dr. Rock pulando e rodando envolta de mim.
Naquele dia sai de casa, e nunca mais voltei.
Quem voltou para casa naquele dia foi uma criança que jamais esqueceria o dia que saiu de casa pela primeira vez.