O início do Verbo!
O Verbo fica na rugosidade da minha pele, o cruzamento das tuas mãos na minha cara, o siderar das tuas mãos no meu rosto, do teu e do meu... Querendo o toque!
Oiço a música no máximo, estremeço as paredes de alvenaria, não me importo com o vizinho do segundo do quarto ou do fim-do-mundo, colapso um rock fatal que me transporta para os limites do espaço etéreo e sideral, uma viagem estelar feito um novo Flash Gordon, e grito ao som dos estridentes acordes, abocanhando pelas fendas, da música me abandonando as peles...
Minas a direita e a esquerda, a Norte e a Sul e por todos os lados, recordos de outras guerras e outras tantas batalhas, e o meu coração treme por ti.
"Fans" ecoa mudo!
Vamos chegar... Chegamos... É já ali... E quando for, será...Quando for não importará mais...
É já ali!
O banho pinga-me no chão, o chuveiro regurgita a tua ausência, o calor dá gás e viola o tempo aéreo, seco o corpo com as mãos para deste modo fazer de conta que são as tuas mãos, que não são as minhas mãos que secam a minha pele.
Colho os arrepios por fora dos ossos, estremeço por fora e por dentro, revibro, sou sísmico, sou onda; Sinto-te para além da humanidade, sinto-te para além da morte.
Visto a pele do cheiro imundo, troco de fitas e descabelo-me despindo a alma. Vomito o meu próprio cheiro e dispo-me de tudo. Deixo-me sentir no ser estado, deambulo pela Savana do meu vazio estrela do tempo na minha mão brilhante e grito o teu nome PORRA!
Grito, grito, grito...
Grito no adormecimento, grito do absurdo... Berro ecoado no palimpsesto que o mar nos separa e Deus elimina, e o Diabo nos consola e o corpo é insone, e a Terra é uma esfera, e no início era o Verbo, ou não era... Ou era a solidão cristalizada e cristalina... O Verbo fica para o último soneto e a última canção... O último versículo.
Adormeci acordado no "amo-te".
Paulo Martins