DÊ TEMPO AO TEMPO

O tempo permite o cansaço do desgosto, da tristeza e, principalmente, da intolerância no amor. Ele, o tempo, se aquieta, em seu cantinho, à espera de um breve compasso para começar a ditar uma nova ordem de repensar as mágoas. É verdade que, num primeiro momento, somos impelidos, pela exaltação, a generalizar nossas angústias, nossas desilusões e, daí, transformá-las em objetivos que nos regem, se depender de nós, para o resto de nossas vidas.

Entretanto, com o passar do tempo, a cabeça fria e o coração batendo compassadamente, nós passamos a ter um novo olhar sobre os infortúnios de uma paixão. Percebemos, neste olhar, o quanto é nocivo o rancor vindo da alma e o quanto pequenos somos com relação ao perdão.

E assim nós caminhamos por essa estrada, ora sentindo saudade de alguém, ora tentando esquecer quem nos fez sofrer. Nesta caminhada, no entanto – antes que o tempo seja, definitivamente, o nosso melhor remédio –, nós travamos verdadeiras batalhas contra as forças do mal. O amor que antes sentíamos e que nos dava prazer em estar vivos nos retorna em forma de desamor – algumas pessoas o classificam como ódio –, pois passamos a adoecer o nosso sentimento até tê-lo transformado em algo ruim.

Mas, para que não fiquemos sujeitos apenas a essa força tão maligna, a força do bem se faz presente e nos dá o equilíbrio necessário para que possamos ter ânimo suficiente para enfrentar o dia a dia sem a presença de um sentimento que foi, por muito tempo em nossas vidas, o principal motivo de ser feliz, e nos brinda com os seus cuidados nos fortalecendo sem que precisemos cair mais do que na verdade precisamos.

Contudo, não nos enganemos. A dor de uma desilusão leva tempo para passar. Muito tempo. Talvez leve o tempo necessário para que nós possamos nos moldar a um novo amor, sem que precisemos nos armar de todas as defesas do mundo para poder abrir o nosso coração – e recomeçar.

Por isso, é importante ter consciência de que, se quem nós amamos nos magoou, outros amores virão e, possivelmente – esperamos que não –, nos magoaremos novamente. A diferença é que, numa segunda vez, podemos antecipar algumas coisas – se tivermos prestado bastante atenção nos erros cometidos – e, com isso, evitarmos os dissabores de uma reprise nada boa de ser assistida.

Neste ínterim, façamos uma autocrítica. Perguntemos a nós mesmos se somos vítimas ou réus, ou se a nossa parcela de culpa está condizente com o tamanho das ofensas recebidas depois que os caminhos se separaram? Talvez encontremos uma resposta que nos permita conviver, relativamente em paz, com a nossa consciência, sem que precisemos apelar para o envenenamento da alma.

O tempo, portanto, nos faz maduros para com o nosso pensar ou agir. Ele nos dá a verdadeira dimensão do que é eterno, e nos mostra, ao mesmo tempo, a finidade de algumas atitudes nossas, bem como, ele nos faz ver que alguns conceitos são frágeis e apenas sobrevivem aos nossos pensares porque devotamos a eles, desde o princípio, o que de amargo se esconde em nós.

Então, não nos enganemos com as nossas desilusões – sejam elas quais forem –, pois, apesar de sermos suscetíveis aos caprichos amorosos do destino, a nossa vontade de sermos felizes nos dá forças suficientes para enfrentarmos várias outras desilusões, embora nem sempre careçamos de novas quedas ou, se preferirmos, de novas decepções.





Obs. Imagem da internet





 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 13/03/2011
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T2845835
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